A cidade virou um comboio de carros fechados de
gente, subindo o asfalto que treme em combustão de calor suspenso no ar.
Foi-se o tempo das goiabeiras nos quintais públicos
da vizinhança desavisada, que batia a roupa na beira do rio e pendurava no meio
da rua deserta de carros.
Foi-se o tempo em que se vendia um prato de farinha no
comércio da esquina.
Foi-se o tempo em que se vendia querosene naqueles
latões de manivela; e a mão da gente ficava fedendo.
Foi-se o tempo em que a gente ia às bancas comprar revistas
com cifra de violão e guitarra para aprender as letras das músicas.
Foi-se o tempo do “bandeirinha”, “travinha”, “garrafão”,
do “Picolé de abacaxi na careca do Didi”.
Agora só existe concreto, clubes com piscina,
quartos fechados com um bom computador de Internet veloz.
O mundo num toque de mouse, num “Enter” ou num “Ctrl
Z”, para os mais arrependidos.
Foi-se o tempo em que a gente marcava encontro por
bilhetinhos e se chovesse não dava de ir e muito menos tinha como desmarcar por
celular ou por e-mail.
Foi-se o tempo do tempo das pessoas... O tempo agora
é regido por um paradoxo chamado “realidade virtual” e carros cruzando o
asfalto quente, de dia e de noite, com gente apressada dentro e mais apressada
ainda do lado de fora.