Sete anos atrás, num começo de noite fria, passeava
pela Avenida Bernardo de Irigoyen, bem no centro de Buenos Aires, e vi uma
família inteira se preparando para dormir sob a marquise de um grande prédio.
Olhei para as pessoas em volta e percebi que ninguém
dava a mínima para aquele pequeno grupo de gente se acomodando debaixo de
papelões para encarar o frio argentino, que se principiava naquele abril
sonolento.
Todo mundo passeava com seus casacos e sobretudos.
Aí me dei conta de que eu também não parei. É mesmo: continuei meu caminho, nem
chorando, nem sorrindo e viajando naquela cena.
De tanto pensar naquilo, perdi até o rumo do hotel e
vaguei preocupado por alguns minutos.
Mas, sabe de uma coisa, aqui em Marabá, sete anos depois,
o que se vê é que o espaço dos caixas eletrônicos dos bancos, os terminais rodoviários,
os prédios abandonados e muitas marquises também têm servido de casa pra gente
que não tem lenço nem documento.
O exemplo da Argentina é só pra mostrar que, por
mais que as culturas sejam diferentes neste mundo louco, a miséria, a
concentração de renda e a falta de zelo pelo semelhante são algo comum,
cruelmente globalizado.