Desde crianças, somos domesticados a debochar de tudo que é diferente, que foge do padrão, que, de alguma forma nos ofende, embora nem tenhamos motivos para isso.
Contamos piadas sobre gays, negros, portugueses, portadores de necessidades físicas... Para nós, tudo isso é normal. Não existe mal algum nisso. Mas será que não existe mesmo?
Quando os pais permitem que os filhos cresçam num ambiente em que certos preconceitos e discriminações são aceitáveis, o resultado é desastroso.
Prova disso foi o ocorrido esta semana, quando o preito de Manaus (cujo nome eu me recuso até a citar) desvelou todo seu preconceito, fruto de uma má formação de caráter, contra uma paraense, que vive no vizinho Estado, pelo simples fato de ela ter nascido no Pará.
Todos nós ficamos horrorizados, revoltados, magoados, com vontade de dar uma resposta à altura, de preferência à altura da venta do prefeito.
Mas agora é que eu quero ver.
Quantas vezes nós não fazemos piadas de nossos irmãos maranhenses, quantas vezes não ridicularizamos homossexuais na rua, quantas vezes...
Se fazemos isso, no que nos diferenciamos do prefeito de Manaus?
Somos melhores em quê?
Ou que direito temos de criticá-lo?
Esse episódio (lamentável episódio) não deve servir apenas para fortalecer a raiva que temos dos preconceituosos.
Esse absurdo acontecimento deve servir de importante lição sobre nossa conduta. É tempo de rever nossos conceitos e preconceitos; é tempo de reavaliar.
A injúria racista cometida pelo prefeito manauara é só a ponta do iceberg. O resto todo está aí, nas esquinas, nas praças, na escola, no trabalho, nas igrejas e por onde quer que passemos.
O pior é que toda essa estupidez, alicerçada no nada, é algo terrivelmente entranhado nas comunidades ao redor do mundo.
É inexplicável, mas ainda parece longe de ter um fim.
Veja só. Certa vez um nazista tentou explicar a um judeu o porquê de tanto ódio contra os judeus.
Ele perguntou qual é a primeira reação de alguém que vê um rato entrando em casa. A resposta é simples: pegar uma vassoura ou outra coisa qualquer e eliminar roedor.
E por que fazemos isso? Perguntou novamente o nazista.
A resposta também é simples: por que ratos transmitem doenças.
Mas os esquilos também são roedores, transmitem doenças e nem por isso são alvo de tamanho asco como os ratos. Pelo contrário. Servem até como bichinho de estimação.
Embora inexplicável, este ainda é o sentimento dos nazistas em relação aos judeus.
Este é o sentimento dos idiotas em relação àquilo que desconhecem.
Este é o chamado preconceito, presente no dia a dia, vivo como uma ferida mal cicatrizada.
É isso.