(*) Rigler Aragão
O povo de Marabá fez a experiência com diferentes pessoas à
frente do poder local, experimentou, uma após outra, a mesma forma de
planejamento e gestão. Com a eleição mudava o prefeito, mas o grupo político e
a meia dúzia de famílias, que tiram proveito, se perpetuam no poder até hoje. A
atual gestão, de Tião Miranda, é tipicamente conservadora, ultrapassada,
autoritária e elitista, assim como foram as anteriores.
Tião Miranda quando assumiu a prefeitura se colocou acima de
tudo e de todos. Não recebe setores organizados da sociedade, exceto os
empresários, ou quando lhe convém fazer propaganda da gestão. Por várias vezes,
representantes dos servidores municipais, das diferentes áreas, já
reivindicaram abertura de diálogo com o prefeito que negou qualquer abertura
direta de negociação. No máximo, coloca seus assessores ou vereadores aliados,
que se colocam como garotos de recados, para receber demandas da comunidade
para que ele decida o que é prioridade de acordo com seu interesse político.
Isso é consequência de uma visão ultrapassada e centralizadora de administrar o
que é público.
Durante a campanha o discurso foi de cuidar das contas do
município, equilibrar receita e despesa, se aproveitando da gestão desastrosa
do seu amigo João Salame. No entanto, uma gestão não pode ser construída
simplesmente pela meta de equilíbrio financeiro, mesmo sendo importante, é
insuficiente para oferecer ao povo uma proposta de desenvolvimento. Nestes
quase quatro anos tivemos uma gestão que foi pautada pelo imediatismo e sem
planejamento, o município não teve durante esse período nenhuma mudança
estrutural na saúde, educação, saneamento básico, agricultura familiar e na
mobilidade urbana. Portanto, problemas profundos, que se arrastam a vários
anos, continuarão sem solução por parte da atual gestão.
Marabá continua sendo uma cidade administrada para poucos.
Há uma contínua exclusão social do povo. Começando pela falta de participação
popular, o povo é visto, por Tião, como desprovido de conhecimento para opinar
e construir soluções. As pessoas estão segregadas nas periferias, não conseguem
acessar equipamentos públicos de transporte, cultura, lazer, segurança,
educação etc. Não esquecendo que para pessoas com deficiência e idosos a cidade
é extremamente inacessível por vários problemas, um deles é simplesmente não
usufruir do direito de ir e vir.
Em meio a pandemia a prefeitura age sem transparência. A
estratégia de combate a Covid 19 mudou de acordo com a pressão dos empresários
e o interesse da gestão em não investir o dinheiro público em ações concretas
para efetivar o isolamento social que é recomendado como a melhor forma de
controlar o contágio. No início não havia testes e nem se sabia quem estava
sendo testado, qual o critério? a subnotificação é uma forma de esconder o real
cenário da crise sanitária em Marabá. A decisão de tirar Marabá do lockdown e
reabrir o comercio tem duas justificativas, bem clara; primeiro, não se
responsabilizar por ações emergenciais com recursos públicos para garantir a
sobrevivência de pessoas sem renda; segundo, manter os interesses financeiros
dos empresários, jogando os trabalhadores a própria sorte. Por isso, Tião é o
prefeito das elites locais.
É necessário mudar o perfil da gestão municipal. Os impostos
arrecadados e todos os recursos que estão à disposição da gestão devem ter o
fim de gerar desenvolvimento a partir de um planejamento e gestão democráticos,
as pessoas devem ser a prioridade, o povo tem muito a contribuir com a
elaboração de soluções dos problemas que enfrentam todos os dias. Se não houver
melhoria da qualidade de vida e redução das desigualdades a gestão pode-se
considerar derrotada por falhar com seus principais objetivos, mesmo que tenha
“equilibrado receita e despesas”.
(*) O autor é professor da Unifesspa