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sexta-feira, 17 de abril de 2020

Até mesmo a retidão é proibida... Em nome do “mito” (paradoxos)



Henrique Mandetta nunca foi um político ligado a defender causas sociais. Porém, enquanto ministro da Saúde, agiu de forma correta, em consonância com as recomendações da OMS em relação ao COVID-19, mas – e justamente por isso - foi demitido.
Olivaldi Azevedo, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, achou que poderia fazer sua obrigação de proteger os indígenas de ataques de madeireiros no sul do Pará. Adivinhe também acabou exonerado.
Até mesmo o governador Dória, um liberal defensor do Estado mínimo, mas que sempre se apropriou do orçamento público, agora se tornou inimigo do atual governo federal e passou a ser taxado até mesmo de comunista, simplesmente por intensificar e prorrogar a quarentena no Estado de São Paulo, que concentra a maioria esmagadora dos casos de COVID-19 no País.
A própria Rede Globo, que historicamente apoiou o golpe militar de 64 e fez até campanha contra a criação do 13º salário para trabalhadores, hoje também é inimiga Nº 1 do atual governo, simplesmente porque, num surto de jornalismo sério, resolveu criticar pontualmente algumas ações do governo.
Todos esses exemplos servem para mostrar dois fenômenos: o primeiro é que o atual governo federal prioriza o erro, prima pela morte, apoia a desgraça. Tanto é verdade que todos esses atores citados se tornaram inimigos porque mostraram virtudes e não falhas. Mas isso muitos de nós já sabíamos.
Porém o segundo fenômeno é mais estarrecedor ainda: todo esse comportamento doentio do atual governo tem grande apoio popular, grande mesmo. Isso revela que há uma seita se consolidando no Brasil, uma seita que adora o “mito”, faça ele o que fizer, e todos que se opõem ao “mito” são transformados imediatamente em inimigos.
Os adoradores deste “jumento de ouro” estão tão alienados de tal forma que são incapazes de perceber isso, são incapazes de sair da caverna.
Senão, vejamos:
Evangélicos a favor da pena de morte e fazendo “arminha” na igreja;
Católicos decepcionados com o Papa e chamando-o de comunista;
Trabalhadores assalariados defendendo o fim dos próprios direitos.
Tudo isso em nome do “mito”.
Se isso não for um estado de alienação, que outra coisa será?
(Chagas Filho)

“Aqui chegamos, enfim
A um ponto sem regresso
Ao começo do fim
De um longo e lento processo
Que se apressa a cada ano
Como um progresso insano
Que marcha pro retrocesso
E é só o começo”.
Lenine (Isso é só o começo)