(*) Chagas Filho
Pense
na Venezuela: um país miserável, onde as pessoas passam fome, governado por uma
ditadura comunista. Certo?
Pois
bem, a Venezuela com seus 28,87 milhões de habitantes tem 455 casos de covid-19
e “apenas” 10 mortes. O percentual da letalidade pelo coronavírus é de 2,2%. Já
na comparação do número de mortos com a população total do País, está sendo
registrada uma morte para cada grupo de 2,887 milhões de habitantes.
No
Brasil, onde o capitalismo triunfa sobre o comunismo, estão confirmados
oficialmente 229 mil casos da doença, responsáveis por mais de 15 mil mortes,
com percentual de letalidade de 6,8%. Outro dado estarrecedor: no Brasil a
covid-19 mata uma pessoa para cada grupo de 14.790 habitantes.
Voltando
à Venezuela (aquele lugar horrível), temos a notícia de que lá o ditador
Nicolás Maduro editou um novo decreto presidencial estendendo o Estado de
Alarme Nacional por mais 30 dias, desde o último dia 14. Segundo a Agência
Brasil de Fato, a nova medida do “ditador” inclui a suspensão de serviços não
essenciais, o fechamento das fronteiras terrestres e do espaço aéreo, assim
como a quarentena social para toda a população.
Agora
vamos fazer o seguinte exercício, imaginemos por um minuto que no Brasil tais
medidas tivessem sido tomadas lá atrás, quando o seu Jair ainda dizia que era
apenas uma “gripezinha”, e com isso nosso país atingisse as mesmas taxas dos
venezuelanos. Possivelmente hoje teríamos menos de 4 mil casos e algo em torno
de 80 mortes, no máximo.
São
os números e suas projeções.
Eu
sei que as realidades são diferentes, as relações sociais são outras, a própria
consciência social da população não é igual, mas 15 mil mortos!? Não dá.
Fui
duramente criticado no último artigo, quando relacionei o alto número de mortes
por coronavírus no Brasil à péssima escolha da maioria do eleitorado na última eleição
presidencial. Reafirmo, foi péssima e infeliz essa escolha. É claro que o vírus
mataria, mas por que em alguns lugares ele mata proporcionalmente bem menos que
outros?
É
claro que existem explicações históricas para isso. Mas não devemos esquecer e
nem podemos perdoar o nosso Congresso que, logo depois do golpe contra Dilma, aprovou a PEC do teto dos gastos públicos, que limitava o investimento em vários
setores, inclusive na saúde, pelos próximos 20 anos. Com a medida o SUS deixa
de arrecadar quase R$ 10 bilhões. Adivinha quem estava lá aprovando a PEC? Jair
Messias Bolsonaro, que hoje é o presidente. E é só por isso que eu o estou
citando, embora eu nem goste de falar esse nome (fiquem tranquilos, dei três batidas
na madeira).
Para
além disso, há mais ou menos um ano, este mesmo elemento que ocupa indignamente
a cadeira de presidente da República enviou proposta para perdoar dívida de R$
30 bilhões do agronegócio.
Não
vou nem falar de toda a crise política instalada no país a parte da postura do indigno,
que se presta a causar intrigas com governadores, com ministros, com a
Imprensa, com quem ele pode, bem no meio da maior pandemia deste século.
Então,
quando eu digo que certamente teríamos menos mortes se tivéssemos um governante
que governasse, falo isso embasado na realidade, porque eu não vivo no universo
paralelo dos fanáticos, que se regem pela “auto-verdade”, já descrita
brilhantemente pela jornalista Eliane Brum.
(*)
Autor é jornalista, pedagogo e mestre em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na
Amazônia.