Neste artigo o professor
Rigler Aragão faz uma análise sobre como a pandemia já está pautando a campanha
eleitoral deste ano. Vale a pena ler e refletir.
Estamos
nos aproximando das eleições municipais de 2020, mesmo que estejamos em meio a
pandemia as eleições ocorrerão este ano. A pandemia secundarizou, até o
momento, o debate eleitoral, e não é para menos, o mundo todo está sendo
afetado. No Brasil, nosso cenário se torna mais dramático devido a
irresponsabilidade do presidente, que potencializa os efeitos da pandemia,
combinado com o oportunismo dos prefeitos e governadores, criando um ambiente
de morte para a população mais pobre, não é à toa que estamos chegando a 60 mil
mortes.
Um
dos principais debates destas eleições será a saúde pública. A pandemia
demonstrou que as políticas privatistas que terceirizaram, sucatearam os
equipamentos de saúde público e desvalorizaram profissionais da saúde, para
fortalecimento do setor privado, foram os principais causadores do caos nos
hospitais. É necessário que o povo faça um balaço das ações que cada prefeito
tomou, antes e durante a pandemia.
Pois,
a pandemia evidenciou os interesses que influenciam e dominam as gestões
municipais, poucas ações foram realizadas para defender os trabalhadores mais
vulneráveis, trabalhadores informais, artistas, desempregados e camponeses. A
manutenção ou reabertura de serviços não essenciais é a prova disso, os
prefeitos, mesmo sabendo dos riscos à saúde, optaram por manter as atividades
tendo clareza que os empregos não se manteriam e a crise econômica só
aumentaria, isso é uma forma de lavar as mãos e fazer o jogo de empresários,
melhor dizendo, fazer o jogo de quem financia campanha eleitoral.
Portanto
o poder local, a gestão municipal, não é neutra, suas ações estão sob forte
influência dos setores que detêm o poder econômico (industriais, banqueiros,
grandes comerciantes, latifundiário e o setor imobiliário). A sociedade não é
homogênea, ela se apresenta dividida em classes sociais que possuem interesses
antagônicos e contraditórios. Uma das consequências é a desigualdade expressa
nas periferias, espaços de segregação social sem acesso a equipamentos de
saúde, educação, transporte, cultura e lazer. Essa desigualdade é reproduzia
cotidianamente, um círculo vicioso de exclusão social que se aprofunda com as
políticas neoliberais em todo país.
As
eleições é momento de debater a realidade concreta. O povo não pode continuar
sendo excluído do poder, a maioria das gestões municipais são tecnocratas,
desconsideram que o povo tem muito a contribuir com as soluções de problemas da
cidade, acreditam que apenas uma equipe de técnicos pode desenvolver soluções.
A maioria dos conselhos municipais são biônicos, formados por
pseudorrepresentantes dos trabalhadores e movimentos populares, onde a maioria
é garantida pela própria gestão e que não têm poderes deliberativos, são apenas
para cumprir formalidade. É possível acreditar na experiência que as mulheres e
o movimento negro vêm desenvolvimento e aglutinando força nas escolas,
universidades e na periferia, são movimentos que podem determinar o cenário
político e assumir o protagonismo com candidaturas autenticas e com maior peso
de reivindicação de participação na elaboração de políticas públicas.
Um
outro ponto importante para as eleições, é a questão de como ativar a economia
local e gerar renda. A crise econômica continuará afetando a geração de
emprego, levará um bom tempo para chegarmos a níveis anterior a pandemia. Por
isso, será necessária uma forte política de geração de renda, o governo local
não poderá esperar que a iniciativa privada ou que as pessoas individualmente
se virem. É preciso que disponha de recursos públicos para articular
cooperativas de trabalhadores, intensifique o investimento em infraestrutura
para gerar emprego e ações articuladas de cultura, turismo, esporte e lazer
envolvendo trabalhadores informais, artistas locais, grupos esportivos e
culturais. São algumas ações que podem impactar na economia local e gerar
emprego e renda, por isso, a importância das próximas eleições municipais.
Rigler
Aragão – professor da Unifesspa