O fiasco do desfile dos "blindados fumacês" mostra que Bolsonaro não é apenas corrupto; é incompetente
também.
Acreditando que a maior parte da população apoia uma impensável volta da ditadura militar, o presidente Jair Bolsonaro, de forma oportunista, usou um exercício militar para tentar mostrar que as forças armadas estão com ele, como se os militares fossem seus capangas. É óbvio que o tiro saiu pela culatra. Essa não foi uma demonstração de força; foi mais uma demonstração do quão patético tem sido este ocaso do governo Jair Bolsonaro.
Os blindados passeando em
número diminuto, soltando uma fumaça preta, mais lembravam o antigo carro
fumacê soltando citronela. A atmosfera do Planalto Central ficou inteiramente poluída
pela fumaça da derrota, do fracasso de um governo, que se presta a debater voto
impresso em pleno Século XXI, quando sua prioridade seria devolver ao brasileiro
mais pobre o poder de compra e retirar da fila do osso, nossos irmãos
brasileiros que já passaram da inaceitável fase da segurança alimentar para o
mais inaceitável ainda estado de fome.
Bolsonaro sabe que não
será reeleito, porque fome dói e não há discurso que resista ao prato vazio. Por
isso, tenta tumultuar o cenário político. Mas não é só isso. Todas essas tentativas
de demonstrar popularidade, como as famigeradas motociatas, que já geraram até
um acidente fatal, também carregam consigo a missão de desviar o foco da
corrupção que está entranhada no atual governo e que a cada dia se mostra mais
visível.
Para mal dos pecados de
Jair, atos como o desfile dos “blindados fumacês” desta terça-feira (10) terminam
por produzir efeito contrário daquele previsto por ele, ao mesmo tempo que expõem
muito bem o que é o atual governo, pois mostram que Bolsonaro não é apenas
corrupto, é também incompetente.
O famigerado toma lá dá cá
com o Centrão, o escândalo das vacinas, a máfia das rachadinhas, o sigilo de
100 anos sobre as ações do presidente e dos seus filhos, a gasolina batendo na
casa dos R$ 6,00, a carne virando artigo de luxo na mesa do pobre, não são questão
de opinião, são fatos concretos que mostram que Bolsonaro consegue ser pior do que
o político que “rouba, mas faz”. Ele rouba e não faz.
Tudo isso é muito ruim
para o País, mas talvez o pior legado deixado por este governo nem será a miséria
e o desemprego impostos aos mais necessitados (o que já é uma desgraça). O pior
legado será o descrédito nas instituições e a incerteza sobre a continuidade da
nossa democracia. Os excessos praticados em excesso pelo líder supremo da nação
mostram que estamos sob perigo constante. Sobretudo porque boa parte dos brasileiros
parece não perceber o abismo debaixo dos nossos pés e um palmo à frente de
nossos narizes.
(Chagas Filho)