O
Brasil está imerso em um lamaçal de tragédias que nunca imaginaríamos estar. Mas
o pior nem é a barbárie em si, mas os desdobramentos que a tornam invisível.
Quando
nosso presidente responde que não é coveiro ao ser questionado sobre o amontoado
de corpos gerados pelo coronavírus;
Quando
nosso presidente manda os repórteres à “puta que pariu” e diz que vai enfiar latas
de leite condensado no “rabo da Imprensa”;
Ou
ainda quando dispara “Pergunte pra sua mãe”, ao ser indagado sobre casos de
corrupção envolvendo sua família;
Quando
ele faz tudo isso e as pessoas riem, aplaudem, gritam “Mito”, “Mito”, da mesma
forma que os nazistas ovacionavam Hitler, chamando-o de “führer”;
Quando
todos esses acontecimentos se expõem diante de nossos olhos, é sinal de que
grande parte de nossa sociedade já não se importa mais com a corrupção, já não
cultiva mais o respeito e a civilidade que deveriam nortear as relações sociais
dentro de uma democracia, por mais pueril que ela ainda seja.
Todas
as vezes que o presidente profere desrespeitos à honra alheia, aos mortos, ao
povo pobre, eu não fixo minha atenção para o ato em si, mas procuro canalizar meu
olhar para as reações do público e é isso que me preocupa.
No
afã histérico de manter suas convicções, os fanáticos que ainda defendem o presidente
a ponto de colocar o próprio esfíncter na reta, são capazes de relativizar absolutamente
tudo.
Professos
cristãos são capazes de se tornar moucos para o palavreado eivado de
turpilóquios do presidente, fruto de uma criação falha e uma vida desprovida de
qualquer respeito ao outro.
Os
“contra a corrupção” conseguem fazer malabarismos quase telecinéticos para justificar
o saque aos cofres públicos, que acontecem de forma simplesmente escancarada.
Andei
por um bom tempo arranjando intrigas nas redes sociais contra pessoas que espalham
fakes, tentando mostrar que estavam sendo levados a erro. Inocência minha. Só depois
de algum tempo percebi que os divulgadores de fakes sabem muito bem o que estão
fazendo. Caiu a ficha!
O
quadro é estarrecedor porque me leva a crer que o presidente não é um super
vilão que controla a mente das pessoas, ele é apenas a representação de muitos
de nossos irmãos brasileiros.
De
tantas certezas que concretizei nesses últimos meses, foi uma dúvida que acabou
me trazendo um certo alento: será que os fanáticos ainda são tantos assim ou
eles são muitos apenas nas redes sociais? Espero que sejam mais barulhentos do
que numerosos. O tempo dirá... se ainda sobrar alguma coisa do Brasil em 2022.
Chagas
Filho, jornalista e pedagogo.