Tenho ouvido muita coisa desde que o STF considerou constitucional
as cotas para negros nas universidades públicas.
As expressões que mais ouço são “capacidade”, “força
de vontade”, “direitos iguais” etc.
Vamos lá: quando os escravos foram libertados no
Brasil, eles passaram a trabalhar nas propriedades dos barões, sem direitos
trabalhistas, sem teto, sem posses, sem nada; apenas com a força de trabalha
sendo muito mal paga.
Até mais ou menos 1935, no Brasil, a opressão ainda era
gigantesca sobre os negros. Veja que faz pouco tempo.
Onde eu quero chegar? Os negros (pelo menos a imensa
maioria) sempre foram oprimidos e vêm sobrevivendo com pouco acesso à educação,
saúde, mercado de trabalho.
Você já viu algum branco de olhos azuis pedindo
esmolas?
Então se existe uma parcela da sociedade que tem
menos acesso à educação de qualidade é óbvio que esta mesma parcela vai ter
mais dificuldade para entrar na universidade. E não se trata de falta de “capacidade”
ou de “força de vontade”. Trata-se de falta de oportunidade.
Continuando: se esta mesma parcela sem acesso à
educação é composta em sua maioria por negros, então as cotas poderão corrigir
um pouco desse problema social.
É lógico que as cotas ainda são uma solução frágil,
mas é melhor do que do jeito que estava e se trata de um primeiro passo.