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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Parauapebas: MST doa mais de 5 toneladas de alimentos na periferia



Como parte das ações do dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural, comemorado no último sábado (25), camponeses da Regional Carajás, do MST, doaram mais de 5 toneladas na manhã desta segunda-feira (27), no Bairro Vila Nova, periferia de Parauapebas.

A entrega foi marcada por apresentação cultural do grupo de Carimbó do Assentamento Palmares.
Os camponeses levaram também a importância do acesso a alimentação saudável para o campo e para a cidade, fortalecendo também a solidariedade no combate a pandemia da Covid-19.

De acordo com o MST, a entidade deflagrou a “Quarenta Produtiva”, como forma de ação de para alimentar o Brasil. “Além de abastecer o campo e a cidade, as ações de solidariedade estão ajudando centenas de municípios e famílias em situação de vulnerabilidade a enfrentar a pandemia da covid-19”, diz nota do MST.

São mais de 5 toneladas de alimentos doadas pelo Assentamento Palmares II, Acampamento Frei Henri, Acampamento Eduardo Galeano e Acampamento Dina Teixeira e aliados.
A ideia do movimento é que s doações alimentos do campo e do trabalho de assentados e acampados possam aproximar a sociedade dos camponeses, ampliando a campanha de doação com os que não estão diretamente na produção de alimentos, mas moram na vila e entorno.

“A mensagem política dessa ação é que a Reforma Agrária é necessária para garantir que alimentos saudáveis e acessíveis estejam na mesa dos brasileiros e dos parauapebenses; e que a Solidariedade entre a classe trabalhadora do campo e da cidade é necessária; e que os camponeses da região de Carajás pedem ‘fora Bolsonaro’”, diz a nota do MST. (Chagas Filho) 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Ensino Remoto: exclusão e precarização



Estamos vivenciando um momento excepcional devido a pandemia. A crise sanitária agravou profundamente a economia e as questões sociais no país, o Brasil enfrentava um cenário de estagnação econômica, aumento do trabalho informal, do desemprego e das desigualdades. Combinando isso com a crise política, chegamos a situação catastrófica de mais 80 mil mortes e sem ministro da saúde, o próprio presidente desmontou qualquer estratégia de combate a pandemia, agora, com ajuda de prefeitos e governadores liberando as atividades não essenciais, o cenário é imensurável.
Muitos estudantes e professores foram impactados pela pandemia adoecendo, perdendo parentes, amigos, vizinhos ou tendo que cuidar de familiares doentes. Muitos estudantes ficaram desempregados, suas famílias estão em situação de vulnerabilidade. Não compreender que a pandemia aprofundou problemas sociais, influenciando quem continuará ou não os estudos em escolas, cursos ou em universidades é desconsiderar esses problemas e desprezar a vida. Estamos em um momento que a prioridade das pessoas deveria ser cuidar da saúde.
Nesse cenário, os estudantes, os professores e os trabalhadores prestadores de serviços da educação pública são pressionados a retornar às atividades. A pressão ao retorno ocorre de diversas maneiras, uma delas é a adesão ao ensino remoto de forma aligeirada, sem formação e suporte técnico adequado aos professores e estudantes. Há o discurso de fazer e despois avaliar o que deu errado e que está na hora dos professores saírem da zona de conforto das aulas tradicionais, sem discussão mais profunda. O mais provável com isso é o aumento da exclusão social de estudantes de famílias pobres, que foram duramente afetadas pela pandemia.
Em momentos de crises muitos querem tirar proveito, como oportunidade para implantarem seu projeto. Assim, deixou claro Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, quando falou que era o “momento de passar a boiada”. Neste caso, a boiada é a expansão do ensino a distância, aumento da privatização e mais lucro para as grandes empresas de serviços tecnológicos educacionais que detém sistemas, aplicativos e plataformas digitais. A compra dessas plataformas pelo governo colocaria milhões de reais nas empresas que monopolizam o setor de tecnologias digitais educacionais. O governo é o principal incentivador desse investimento, pressiona institutos e universidades a aderirem ao ensino remoto, com a justificativa de que a universidade não pode continuar sem atividades e que o trabalho remoto duraria apenas no período da pandemia.
Sobre essa assertiva, destaca-se que as universidades não estão “paradas”. Muitos técnicos e professores estão na linha de frente do combate a Covid19 nos hospitais universitários, fazendo pesquisas em diferentes áreas, seja para criar uma vacina, ou medicamentos, ou para compreender as consequências sociais e econômicas da pandemia. O trabalho docente não se restringe à ministrar aula, envolve também extensão, pesquisas e o trabalho administrativo. Essas ações estão acontecendo, de forma limitada, mas estão sendo desenvolvidas através do trabalho remoto.
No início da pandemia com a paralisação das aulas presenciais prefeitos, governadores e secretários de educação tentaram implantar o ensino remoto. Muitos de forma romântica colocavam que com a pandemia o ensino a distância seria solução, como se abrisse uma porta de oportunidades e novidades em meio a pandemia. Não demorou muito para a realidade se impor, a minoria da população tem acesso a internet, a desigualdade e exclusão são traços fortes e marcantes da sociedade brasileira. O adiamento do Enem só reafirmou que milhares de jovens não tem acesso a internet para estudar, a juventude universitária carece com a mesma limitação.
Qualquer forma de implementação de ensino remoto nas universidades públicas é aprofundar a desigualdade. Em 2019 a ANDIFES divulgou uma pesquisa que traçava o perfil socio-econômico dos estudantes das universidades federais, e a constatação foi que 70% dos estudantes são oriundos de famílias de baixa renda. Muitos dos estudantes não têm acesso a internet e computador em casa.
A forma de ensino remoto que o governo tentar impor para as universidades é transferir a responsabilidade para os professores. O docente é que terá de arcar com os custos dos insumos (energia, plano de internet, computador e espaço físico) necessários para preparar e ministrar as aulas online. O lar do docente será uma extensão do trabalho no momento que muitos professores/as estão com seus os/as filhos/as sem aula, ou com ensino a distância, ocasionando maior atenção e tempo com as tarefas domésticas. Essa realidade atinge muito mais as professoras, já que as mulheres são responsáveis pela maioria dos trabalhos domésticos.
Outro aspecto, relevante a considerar é a diversidade regional que influência as universidades, principalmente, nos campi que estão distantes da sede em cidades do interior do estado com precária infraestrutura, nestes casos, as dificuldades são maiores do que nos grandes centros urbanos.
Por fim, umas das justificativas para implantar o ensino remoto é que será por um curto período, durante a pandemia. Há muito tempo o projeto de Ensino a Distância (EaD) vem se desenvolvendo em ritmo muito intenso no setor privado, tanto é, que as escolas e universidades privadas as aulas não pararam. Mas nas universidades públicas há muito tempo os governos vêm tentado expandir a oferta do ensino superior por meio da EaD, por ter custo menor do que a modalidade presencial, é de fácil expansão de vagas e possibilita precarizar, intensificar o trabalho e flexibilizar o contrato de trabalho. A tática é estabelecer uma “nova normalidade” pós pandemia, não retornaremos ao que era antes da pandemia, mas sob novos marcos que se estabelecem neste momento, como algo eventual, de exceção que poderá se transformar em regra. O ensino remoto de hoje pode se tornar o EaD de amanhã.
Ser contra o ensino remoto, não significa ser contra o desenvolvimento tecnológico e sua utilização na educação. A tecnologia é capaz de proporcionar inúmeros benefícios à sociedade. Mas da forma como vem sendo pensada sua implementação apenas para a geração de lucro, intensificação da exploração de trabalhadores e trabalhadoras tem servido para aumentar o abismo da desigualdade e exclusão social. Por isso é importante a luta coletiva de estudantes, técnicos e professores contra qualquer forma de exploração e exclusão nas universidades.

Rigler Aragão professor da Unifesspa e militante do PSOL
Edma Moreira Professora da Unifesspa e Coordenadora do Sindunifesspa

terça-feira, 7 de julho de 2020

Live debate implicações do ensino remoto


A partir das 16h30 desta terça-feira (7) acontece a Live “Implicações do ensino remoto para a educação superior e o trabalho docente”, que pretende discutir esse novo momento de aulas remotas em razão da pandemia do coronavírus. A transmissão será feita pelo Youtube e Facebook do Sinduepa – Sindicato dos Docentes da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
O debate será mediado pelo professor João Carlos Colares, diretor do Sinduepa, tendo como debatedores o professor Rigler Aragão, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e coordenador da Rede Emancipa de cursos pré-vestibulares populares; e pela professora Eblin Farage, da Universidade Federal Fluminense (UFF), secretária geral do ANDES – Sindicato Nacional Dos Docentes Das Instituições De Ensino Superior.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Eleição, pandemia e algumas perspectivas




Neste artigo o professor Rigler Aragão faz uma análise sobre como a pandemia já está pautando a campanha eleitoral deste ano. Vale a pena ler e refletir.

Estamos nos aproximando das eleições municipais de 2020, mesmo que estejamos em meio a pandemia as eleições ocorrerão este ano. A pandemia secundarizou, até o momento, o debate eleitoral, e não é para menos, o mundo todo está sendo afetado. No Brasil, nosso cenário se torna mais dramático devido a irresponsabilidade do presidente, que potencializa os efeitos da pandemia, combinado com o oportunismo dos prefeitos e governadores, criando um ambiente de morte para a população mais pobre, não é à toa que estamos chegando a 60 mil mortes.
Um dos principais debates destas eleições será a saúde pública. A pandemia demonstrou que as políticas privatistas que terceirizaram, sucatearam os equipamentos de saúde público e desvalorizaram profissionais da saúde, para fortalecimento do setor privado, foram os principais causadores do caos nos hospitais. É necessário que o povo faça um balaço das ações que cada prefeito tomou, antes e durante a pandemia.
Pois, a pandemia evidenciou os interesses que influenciam e dominam as gestões municipais, poucas ações foram realizadas para defender os trabalhadores mais vulneráveis, trabalhadores informais, artistas, desempregados e camponeses. A manutenção ou reabertura de serviços não essenciais é a prova disso, os prefeitos, mesmo sabendo dos riscos à saúde, optaram por manter as atividades tendo clareza que os empregos não se manteriam e a crise econômica só aumentaria, isso é uma forma de lavar as mãos e fazer o jogo de empresários, melhor dizendo, fazer o jogo de quem financia campanha eleitoral.
Portanto o poder local, a gestão municipal, não é neutra, suas ações estão sob forte influência dos setores que detêm o poder econômico (industriais, banqueiros, grandes comerciantes, latifundiário e o setor imobiliário). A sociedade não é homogênea, ela se apresenta dividida em classes sociais que possuem interesses antagônicos e contraditórios. Uma das consequências é a desigualdade expressa nas periferias, espaços de segregação social sem acesso a equipamentos de saúde, educação, transporte, cultura e lazer. Essa desigualdade é reproduzia cotidianamente, um círculo vicioso de exclusão social que se aprofunda com as políticas neoliberais em todo país.
As eleições é momento de debater a realidade concreta. O povo não pode continuar sendo excluído do poder, a maioria das gestões municipais são tecnocratas, desconsideram que o povo tem muito a contribuir com as soluções de problemas da cidade, acreditam que apenas uma equipe de técnicos pode desenvolver soluções. A maioria dos conselhos municipais são biônicos, formados por pseudorrepresentantes dos trabalhadores e movimentos populares, onde a maioria é garantida pela própria gestão e que não têm poderes deliberativos, são apenas para cumprir formalidade. É possível acreditar na experiência que as mulheres e o movimento negro vêm desenvolvimento e aglutinando força nas escolas, universidades e na periferia, são movimentos que podem determinar o cenário político e assumir o protagonismo com candidaturas autenticas e com maior peso de reivindicação de participação na elaboração de políticas públicas.
Um outro ponto importante para as eleições, é a questão de como ativar a economia local e gerar renda. A crise econômica continuará afetando a geração de emprego, levará um bom tempo para chegarmos a níveis anterior a pandemia. Por isso, será necessária uma forte política de geração de renda, o governo local não poderá esperar que a iniciativa privada ou que as pessoas individualmente se virem. É preciso que disponha de recursos públicos para articular cooperativas de trabalhadores, intensifique o investimento em infraestrutura para gerar emprego e ações articuladas de cultura, turismo, esporte e lazer envolvendo trabalhadores informais, artistas locais, grupos esportivos e culturais. São algumas ações que podem impactar na economia local e gerar emprego e renda, por isso, a importância das próximas eleições municipais.
Rigler Aragão – professor da Unifesspa