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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Flamengo 4x3 Bahia foi mais que um jogo de futebol

 


Não é sempre, mas algumas vezes um jogo de futebol funciona como uma representação da sociedade, uma encenação orgânica da vida, com seus heróis, seus vilões, conflitos de valores, derrotas, superações, frustrações... Assim foi Flamengo 4x3 Bahia na noite de domingo (20), pelo Brasileirão 2020.

O Flamengo jogou com um a menos durante 91 minutos (mais que o tempo regulamentar) e, mesmo assim, fez 2x0. Já o Bahia, que vive um inferno astral, conseguiu se superar e virar a partida em apenas 14 minutos do 2º tempo. E quando tudo parecia estar resolvido, o Flamengo empata e vira de novo com um gol improvável do atleta mais odiado pelos torcedores: Vitinho.

Vale destacar que o jogador expulso do Flamengo não foi qualquer um: foi Gabigol. É certo que o atacante não vive uma grande fase, mas será que alguém já esqueceu o que ele fez no ano passado? A expulsão por xingar o juiz (coisa que Gabi nega) ocorreu antes dos 10 primeiros minutos de peleja.

Enfim, só esses ingredientes já seriam suficientes para falar apenas de futebol aos amantes da bola. Mas não foi só isso. Teve mais, teve muito mais. O meia Gerson, do Flamengo, denunciou que o outro meia, Índio Ramirez, do Bahia, lhe dirigiu a seguinte frase: “Cala a boca, negro!”.

Apesar dos comentários racistas dos “especialistas” de rede social, essa frase não é uma mera constatação do óbvio, pois Gerson é negro, de fato. Pelo contrário: dizer isso é afirmar ao ser humano negro que ele é um cidadão de segunda classe e não tem direito a fala, justamente por ser o que é: negro.

O atleta se posicionou, danou-se, correu de um lado para o outro em busca de uma autoridade que pudesse leva-lo a sério. Mas o juiz da partida, que foi capaz de ouvir o xingamento de Gabigol, de costas, a mais de 10 metros de distância, ficou mouco na alegada ofensa racista, mesmo estando quase ao lado do acusado.

Pior nem foi isso, pior foi Gerson procurar apoio no treinador do agressor (Mano Menezes), como quem pedia ajuda, e este ironizar a acusação e ainda dizer que o flamenguista estava de “malandragem”.

O lado bom da história (para os flamenguistas) é que todo esse clima serviu de combustível para Gerson, que extraiu uma “beleza colateral” de toda essa doença chamada racismo. Ele jogou como nunca, contagiou os companheiros e conduziu o Flamengo a uma vitória memorável.

Depois que o jogo acabou, ao desabafar sobre o que ocorreu, ao tocar no assunto, ao meter o dedo na ferida, Gerson conquistou mais uma vitória, que vale muito mais do que três pontos. Para muitos, vale a luta de uma vida. (Chagas Filho)


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Morte de Maura Dubal, na Vila Militar, completará um ano no dia 4


 

Daqui a pouco reportagem completa sobre o caso no programa “Fala Cidade” (SBT canal 26) e também no jornal CORREIO amanhã (17) e portal Correio de Carajás.




quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O dia em que fui "xingado" de "discípulo de Paulo Freire"

 

Durante um acalorado debate político ontem à noite, em um grupo de WhatsApp, alguém decidiu me ofender e disse a seguinte frase: “Você deve ser discípulo de Paulo Freire”.

Me senti tão honrado e feliz porque não havia nem tocado no nome de Paulo Freire durante o embate, mas a pessoa que buscava me desqualificar se lembrou do nosso patrono da Educação. Revelou por mim o mesmo ódio que revela por Freire, algo comum para os que tratam a ignorância como capital político.

Nem sei se tenho o direito de ser considerado discípulo de Freire, afinal estamos falando de uma referência mundial na área da Pedagogia.

Confesso que dormi feliz.



quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Maradona: “Como vós solo Dios”


Sempre que me perguntam por que eu gosto tanto de futebol, eu respondo que não é pelo jogo, é pelas pessoas.

Diego Armando Maradona é, para mim, o personagem mais interessante da história do futebol. Viveu em um tempo de transição em que os jogadores começaram a deixar de ser artistas da bola para serem máquinas de jogar futebol; um tempo em que a força física e o compromisso tático começaram a compor o perfil dos jogadores até torna-los no que são hoje: atletas profissionais. Maradona aceitou esse desafio, “pero sin perder la ternura jamás” e foi além: fez do campo de jogo sua área de atuação política e social.

Na Copa do Mundo de 1986, Dieguito marcou dois gols antológicos no mesmo jogo diante da Inglaterra, um deles com a mão. Anos depois, ao ser perguntado sobre o lance, ele deu a resposta que só um gênio como ele poderia dar: “Sí, ese gol entró con la mano, pero con la mano de Dios” (Sim, esse gol entrou com a mão, mas com a mão de Deus).

A Argentina foi campeã do mundo naquele ano, mas o jogo mais comemorado foi aquele contra a Inglaterra e eu não conseguia entender por quê. Só fui compreender algum tempo depois que nos anos 80 Argentina e Inglaterra travavam uma guerra pelo controle da Ilha das Malvinas. Até hoje, os ingleses controlam o arquipélago, mas naquele 22 de junho de 1986, os argentinos derrotaram os britânicos... com “la mano de Dios”.

Com essa noção de pertencimento, esse empoderamento típico de los hermanos, esse auto-reconhecimento, Maradona mostrava para o mundo que ele não era apenas um jogador de futebol, mas o ídolo de uma nação, alguém inteiramente conectado com sua gente.

Maradona é tão unânime que nem mesmo seu envolvimento com drogas e vício por álcool, que costumam gerar reprovação social, foram capazes de abalar sua imagem. Pelo contrário: suas crises, suas fraquezas, mostravam para todos que o ser humano é falho, que o fracasso é um componente na formação das pessoas; mostravam ainda mais: que vícios não são um desvio de caráter.

No dia 3 de abril de 2005, enquanto eu passeava por La Boca, periferia de Buenos Aires, me deparei com várias homenagens a Maradona, uma delas me chamou atenção em especial: havia um banner com um desenho de Dieguito com a seguinte legenda: “Como vós solo Dios” (Como você só Deus). Isso resume tudo. Só tem um motivo para eu me lembrar exatamente da data: era o dia do centenário do Boca Juniors; não era uma festa comum, era um verdadeiro culto a um Deus.

Aliás, Maradona é o único jogador de futebol que tem uma religião própria, onde ele é adorado. Isso é algo tão grande que é difícil de mensurar. Nem Pelé, o rei do futebol, goza desse prestígio. Talvez porque Pelé seja “apenas” o rei, enquanto Maradona é “Deus”.

Maradona viveu o futebol raiz, se envolveu com os problemas sociais, se entranhou no cotidiano do povo argentino, se tornou mais que uma pessoa, mais que um artista, Maradona encantou-se, virou história viva; deixou esse mundo cedo demais. Mas talvez o mundo do futebol, por vezes tão sujo e excludente, não mereça mesmo a presença de Maradona.

Azar do futebol, sorte a dele, que finalmente pôde tocar em “la mano de Dios”.

(Chagas Filho)

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Caminhão da prefeitura joga detritos em lagoa. Veja o vídeo!

 

Uma pessoa flagrou e filmou o caminhão do Serviço de Saneamento Ambiental (SSAM), da Prefeitura de Marabá, jogando dejetos em uma lagoa que deságua no Rio Itacaiúnas. O caso se passa no Bairro da Liberdade, bem perto da Avenida Boa Esperança. Segundo a pessoa que faz a filmagem, o local onde o detrito é jogado fica a cerca de 500 metros o rio. Ele denuncia também que isso já virou rotina e que são fezes que estão sendo lançadas direto na grota. Veja o vídeo:

 


Em nota a Secretaria de Comunicação da Prefeitura (Secom) informa que já abriu investigação com base na placa do veículo. O SSAM esclarece também que os detritos jogados na grota são referentes à limpeza dos bueiros e não de fossas. Em outro trecho da nota, a prefeitura assegura que já foram tomadas as devidas atitudes com relação ao ocorrido, além disso, “os responsáveis já foram devidamente advertidos”, o que deixa em dúvida se a prefeitura abriu investigação, como descrito no começo da nota ou se já puiu os culpados.

De todo modo, o Serviço de Saneamento Ambiental garante que o fato não se repetirá, em função do aumento de fiscalização com relação aos veículos. “O SSAM agradece a população por fiscalizar situações como essa e colaborar com o bem-estar do município”, finaliza.

Os.: O caso foi divulgado em primeira mão pela TV Correio.

 

(Chagas Filho)

 

Doutrinação política dentro das igrejas: Precisamos falar sobre isso!

 


Comenta-se muito que professores promovem doutrinação nas universidades, mas a julgar pela quantidade de pastores e obreiros eleitos Brasil afora (inclusive em Marabá), a doutrinação parece estar dentro dos templos, nos horários do culto, do alto dos púlpitos, onde os sermões deveriam ser voltados para o Reino dos Céus, como pregou Jesus no Monte das Oliveiras.

O mesmo fenômeno que vem transformando o púlpito das igrejas em praça de negócios e os crentes em consumidores, avança em direção ao poder e transforma o Brasil em algo que não conseguimos entender ainda o que será, mas temos motivos para temer.

Há 20 anos, o grande Leonel Brizola nos alertava que “se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço, o país retrocederá vergonhosamente e matarão em nome de Deus”. Alguém duvida?

As pessoas humildes de posses e de conhecimento crítico são levadas a crer cegamente na palavra dos líderes religiosos, que detêm o dom da oratória e se apresentam como representantes de Deus na terra, para depois entrar na vida pública e muitos deles acabam se envolvendo em roubalheiras. Mas, mesmo assim, se mantêm no poder, protegidos pelo discurso da perseguição ao povo de Deus.

O que se vê são pregações pautadas apenas na emoção, corrompendo o texto bíblico e, de forma audaciosa, criando falsas profecias para os que votam em candidatos crentes ou depositam vultosas ofertas. Tudo isso regado à ignorância de muitos cristãos que são levados a ler apenas os trechos bíblicos convenientes para aquele tipo de pregação.

Eu não acredito em céu para os pios ou inferno para os ímpios, mas esses líderes religiosos dizem acreditar. Fico pensando: será que eles estão cientes de que irão para o inferno ou pensam que vão enganar o próprio Deus no dia do juízo! Pois o que se vê hoje – na maioria das igrejas evangélicas – é uma coisa tão aterradora que dificilmente pode ser considerada cristianismo.

Há exceções... que servem apenas para confirmar a regra.

(Chagas Filho)

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Tião Miranda: o fenômeno... Calma!



Antes de começar esse texto, é preciso dizer claramente que não morro de amores pelo prefeito Tião Miranda e tampouco votei nele. Mas, convenhamos, Tião Miranda é um fenômeno. Dos 136.777 votantes em Marabá, nada menos de 96.197 votaram nele. Até as praças da cidade – e principalmente elas – já sabiam que Tião Miranda venceria, mas assim, mano!

A avaliação plausível de se fazer é que o marabaense não quer mais embarcar em aventuras: prefere a estabilidade. Os dois prefeitos que antecederam Tião, desde que ele cumpriu seus mandados anteriores, não deram conta do recado. Tiveram gestões questionáveis que culminaram em afastamentos e até prisões. Com Tião isso é inimaginável, pelo menos nesse momento.

Tião paga os servidores em dia, o que é obrigação de qualquer gestor; mantém a cidade limpa, o que também é obrigação; honra os compromissos com os fornecedores, o que é o mínimo a ser feito por um governante. O problema é que nem sempre os gestores agem assim. Sabe aquele ditado: “em terra de cego quem tem um olho é rei”, pois é.

As críticas que se faz a Tião, sobre sua falta de diálogo e centralização de poder, vão continuar e dificilmente ele mudará de postura. Talvez nem precise mesmo, afinal de contas ele bateu todos os recordes de votos.

Em relação a corrupção, não há notícias concretas, nem processos que o envolvam diretamente. O que existe são comentários aqui e ali, um nepotismo cruzado numa secretaria ou noutra, enfim, nada que faça o eleitorado de forma geral taxa-lo de desonesto. Não há! É difícil abrir a boca para acusa-lo de algo assim.

Só mais um detalhe: Tião está fazendo a orla do Cabelo Seco, urbanizando o encontro dos rios Tocantins e Itacaiúnas, o berço de Marabá, esquecido historicamente, que começa a receber a importância que merece.

O futuro

Agora vamos à “página 2”. O que esperar daqui pra frente. É difícil fazer um exercício de futurologia, mas existem alguns indicativos sobre o que há de vir; e eu diria que um desses indicativos nasce justamente dessa centralização: a escolha de Luciano Lopes Dias, como vice-prefeito.

Formado em Direito, Luciano não é um político de carreira, nunca foi vereador, muito menos candidato; é homem de confiança de Tião; é um técnico que se mostrou competente ao longo de sua trajetória. Foi presidente da Cosanpa na época que Tião era deputado; depois foi secretário municipal de Educação, já com Tião de volta à prefeitura; e antes de ser lançado como candidato a vice, Luciano era secretário de Saúde.

E esse é justamente o gargalo da gestão de Tião: a saúde. Nove em cada 10 marabaenses se queixam de problemas nessa área estratégica da administração municipal.

Talvez agora, reeleito com folga, tendo Luciano ao seu lado, Tião se lembre que nem só de praça vive o povo: hospitais e postos de saúde capacitados para atender à população mais carente farão muito bem à saúde, inclusive à saúde política do grupo de Tião, que certamente já está com os olhos voltados para 2022 e 2024!

 (Chagas Filho)

 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

O caso Infraero: Justiça para quem?

Repare bem: em Marabá, temos um condomínio luxuoso cuja entrada principal fica no final de uma grande avenida, no bairro Belo Horizonte. O final da avenida foi simplesmente bloqueado para fazer o condomínio.

E não é só isso: os fundos do mesmo condomínio ficam dentro da mata ciliar do Rio Itacaiúnas, configurando crime ambiental. Já houve processo judicial em relação ao assunto, mas os prédios continuam ali e seus moradores nunca foram incomodados com a possibilidade de despejo. Mas, mesmo assim, procure informações sobre isso no Google, você não vai achar nada.

Pensa que acabou? Não. Uma imensa área de varjão em Marabá está em nome de um grande empresário local.

Tem mais: várias casas comerciais – inclusive posto de combustível – estão sob a área de influência do aeroporto de Marabá.

Agora adivinhe quem a Justiça Federal quer expulsar de casa num prazo de 30 dias: famílias pobres que moram na ocupação da Piçarreira na área da Infraero.

Uma das alegações é de que as casas estão em risco porque os aviões voam muito baixo devido às operações de pouso e decolagem.

Pergunto: Os comércios instalados ali não estão sob o mesmo risco?

Grande parte do Amapá também não está?

A mata ciliar do Rio Itacaiúnas também não foi antropizada pelo condomínio luxuoso?

Por que os pobres incomodam tanto o Poder Judiciário?

Como diria Renato Russo, “Essa Justiça desafinada é tão humana e tão errada”.

 

(Chagas Filho, jornalista e pedagogo)

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O dinheiro nas nádegas e sua relação com o presidente

Não fale que o vice-líder do governo Bolsonaro é do governo Bolsonaro, só porque ele é vice-líder do governo Bolsonaro. 

As coisas precisam ficar bem claras: o vice-líder do governo no Senado é nomeado pelo presidente da República. No caso do senador Chico Rodrigues, flagrado pela Polícia Federal com dinheiro entre as nádegas, a ligação com o presidente é mais concreta ainda. Ambos são amigos há 20 anos, inclusive o próprio Bolsonaro classifica a relação dele com Chico como uma quase “união estável”. Mas a ligação não para por aí.

Quando Bolsonaro queria indicar seu filho Eduardo Bolsonaro para ser embaixador nos EUA, Chico Rodrigues foi indicado para ser o relator do processo no Senado. Felizmente a experiência de fritar hamburger na Terra do Tio San não foi suficiente para inflar o "lattes" do "Zero um" a ponto de alça-lo à condição de embaixador. 

E tem mais coisa:

O famoso Léo Índio, que é “brother” de Carlos Bolsonaro, filho "Zero 3" do presidente, era até ontem (15/10) assessor de gabinete de Chico Rodrigues e só saiu agora depois do escândalo. A nomeação de Léo Índio foi uma indicação do presidente e não se sabe exatamente o que ele fazia no gabinete do senador do cofrinho.

Diante de tudo isso, quem tem olhos para ver verá que a relação do presidente com todos esses corruptos é umbilical, porque ele também é desonesto. Sempre foi e dificilmente deixará de ser. Mas ainda posa de honesto, mesmo diante de mais um escândalo envolvendo dinheiro sujo. 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Parauapebas: MST doa mais de 5 toneladas de alimentos na periferia



Como parte das ações do dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural, comemorado no último sábado (25), camponeses da Regional Carajás, do MST, doaram mais de 5 toneladas na manhã desta segunda-feira (27), no Bairro Vila Nova, periferia de Parauapebas.

A entrega foi marcada por apresentação cultural do grupo de Carimbó do Assentamento Palmares.
Os camponeses levaram também a importância do acesso a alimentação saudável para o campo e para a cidade, fortalecendo também a solidariedade no combate a pandemia da Covid-19.

De acordo com o MST, a entidade deflagrou a “Quarenta Produtiva”, como forma de ação de para alimentar o Brasil. “Além de abastecer o campo e a cidade, as ações de solidariedade estão ajudando centenas de municípios e famílias em situação de vulnerabilidade a enfrentar a pandemia da covid-19”, diz nota do MST.

São mais de 5 toneladas de alimentos doadas pelo Assentamento Palmares II, Acampamento Frei Henri, Acampamento Eduardo Galeano e Acampamento Dina Teixeira e aliados.
A ideia do movimento é que s doações alimentos do campo e do trabalho de assentados e acampados possam aproximar a sociedade dos camponeses, ampliando a campanha de doação com os que não estão diretamente na produção de alimentos, mas moram na vila e entorno.

“A mensagem política dessa ação é que a Reforma Agrária é necessária para garantir que alimentos saudáveis e acessíveis estejam na mesa dos brasileiros e dos parauapebenses; e que a Solidariedade entre a classe trabalhadora do campo e da cidade é necessária; e que os camponeses da região de Carajás pedem ‘fora Bolsonaro’”, diz a nota do MST. (Chagas Filho) 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Ensino Remoto: exclusão e precarização



Estamos vivenciando um momento excepcional devido a pandemia. A crise sanitária agravou profundamente a economia e as questões sociais no país, o Brasil enfrentava um cenário de estagnação econômica, aumento do trabalho informal, do desemprego e das desigualdades. Combinando isso com a crise política, chegamos a situação catastrófica de mais 80 mil mortes e sem ministro da saúde, o próprio presidente desmontou qualquer estratégia de combate a pandemia, agora, com ajuda de prefeitos e governadores liberando as atividades não essenciais, o cenário é imensurável.
Muitos estudantes e professores foram impactados pela pandemia adoecendo, perdendo parentes, amigos, vizinhos ou tendo que cuidar de familiares doentes. Muitos estudantes ficaram desempregados, suas famílias estão em situação de vulnerabilidade. Não compreender que a pandemia aprofundou problemas sociais, influenciando quem continuará ou não os estudos em escolas, cursos ou em universidades é desconsiderar esses problemas e desprezar a vida. Estamos em um momento que a prioridade das pessoas deveria ser cuidar da saúde.
Nesse cenário, os estudantes, os professores e os trabalhadores prestadores de serviços da educação pública são pressionados a retornar às atividades. A pressão ao retorno ocorre de diversas maneiras, uma delas é a adesão ao ensino remoto de forma aligeirada, sem formação e suporte técnico adequado aos professores e estudantes. Há o discurso de fazer e despois avaliar o que deu errado e que está na hora dos professores saírem da zona de conforto das aulas tradicionais, sem discussão mais profunda. O mais provável com isso é o aumento da exclusão social de estudantes de famílias pobres, que foram duramente afetadas pela pandemia.
Em momentos de crises muitos querem tirar proveito, como oportunidade para implantarem seu projeto. Assim, deixou claro Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, quando falou que era o “momento de passar a boiada”. Neste caso, a boiada é a expansão do ensino a distância, aumento da privatização e mais lucro para as grandes empresas de serviços tecnológicos educacionais que detém sistemas, aplicativos e plataformas digitais. A compra dessas plataformas pelo governo colocaria milhões de reais nas empresas que monopolizam o setor de tecnologias digitais educacionais. O governo é o principal incentivador desse investimento, pressiona institutos e universidades a aderirem ao ensino remoto, com a justificativa de que a universidade não pode continuar sem atividades e que o trabalho remoto duraria apenas no período da pandemia.
Sobre essa assertiva, destaca-se que as universidades não estão “paradas”. Muitos técnicos e professores estão na linha de frente do combate a Covid19 nos hospitais universitários, fazendo pesquisas em diferentes áreas, seja para criar uma vacina, ou medicamentos, ou para compreender as consequências sociais e econômicas da pandemia. O trabalho docente não se restringe à ministrar aula, envolve também extensão, pesquisas e o trabalho administrativo. Essas ações estão acontecendo, de forma limitada, mas estão sendo desenvolvidas através do trabalho remoto.
No início da pandemia com a paralisação das aulas presenciais prefeitos, governadores e secretários de educação tentaram implantar o ensino remoto. Muitos de forma romântica colocavam que com a pandemia o ensino a distância seria solução, como se abrisse uma porta de oportunidades e novidades em meio a pandemia. Não demorou muito para a realidade se impor, a minoria da população tem acesso a internet, a desigualdade e exclusão são traços fortes e marcantes da sociedade brasileira. O adiamento do Enem só reafirmou que milhares de jovens não tem acesso a internet para estudar, a juventude universitária carece com a mesma limitação.
Qualquer forma de implementação de ensino remoto nas universidades públicas é aprofundar a desigualdade. Em 2019 a ANDIFES divulgou uma pesquisa que traçava o perfil socio-econômico dos estudantes das universidades federais, e a constatação foi que 70% dos estudantes são oriundos de famílias de baixa renda. Muitos dos estudantes não têm acesso a internet e computador em casa.
A forma de ensino remoto que o governo tentar impor para as universidades é transferir a responsabilidade para os professores. O docente é que terá de arcar com os custos dos insumos (energia, plano de internet, computador e espaço físico) necessários para preparar e ministrar as aulas online. O lar do docente será uma extensão do trabalho no momento que muitos professores/as estão com seus os/as filhos/as sem aula, ou com ensino a distância, ocasionando maior atenção e tempo com as tarefas domésticas. Essa realidade atinge muito mais as professoras, já que as mulheres são responsáveis pela maioria dos trabalhos domésticos.
Outro aspecto, relevante a considerar é a diversidade regional que influência as universidades, principalmente, nos campi que estão distantes da sede em cidades do interior do estado com precária infraestrutura, nestes casos, as dificuldades são maiores do que nos grandes centros urbanos.
Por fim, umas das justificativas para implantar o ensino remoto é que será por um curto período, durante a pandemia. Há muito tempo o projeto de Ensino a Distância (EaD) vem se desenvolvendo em ritmo muito intenso no setor privado, tanto é, que as escolas e universidades privadas as aulas não pararam. Mas nas universidades públicas há muito tempo os governos vêm tentado expandir a oferta do ensino superior por meio da EaD, por ter custo menor do que a modalidade presencial, é de fácil expansão de vagas e possibilita precarizar, intensificar o trabalho e flexibilizar o contrato de trabalho. A tática é estabelecer uma “nova normalidade” pós pandemia, não retornaremos ao que era antes da pandemia, mas sob novos marcos que se estabelecem neste momento, como algo eventual, de exceção que poderá se transformar em regra. O ensino remoto de hoje pode se tornar o EaD de amanhã.
Ser contra o ensino remoto, não significa ser contra o desenvolvimento tecnológico e sua utilização na educação. A tecnologia é capaz de proporcionar inúmeros benefícios à sociedade. Mas da forma como vem sendo pensada sua implementação apenas para a geração de lucro, intensificação da exploração de trabalhadores e trabalhadoras tem servido para aumentar o abismo da desigualdade e exclusão social. Por isso é importante a luta coletiva de estudantes, técnicos e professores contra qualquer forma de exploração e exclusão nas universidades.

Rigler Aragão professor da Unifesspa e militante do PSOL
Edma Moreira Professora da Unifesspa e Coordenadora do Sindunifesspa

terça-feira, 7 de julho de 2020

Live debate implicações do ensino remoto


A partir das 16h30 desta terça-feira (7) acontece a Live “Implicações do ensino remoto para a educação superior e o trabalho docente”, que pretende discutir esse novo momento de aulas remotas em razão da pandemia do coronavírus. A transmissão será feita pelo Youtube e Facebook do Sinduepa – Sindicato dos Docentes da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
O debate será mediado pelo professor João Carlos Colares, diretor do Sinduepa, tendo como debatedores o professor Rigler Aragão, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e coordenador da Rede Emancipa de cursos pré-vestibulares populares; e pela professora Eblin Farage, da Universidade Federal Fluminense (UFF), secretária geral do ANDES – Sindicato Nacional Dos Docentes Das Instituições De Ensino Superior.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Eleição, pandemia e algumas perspectivas




Neste artigo o professor Rigler Aragão faz uma análise sobre como a pandemia já está pautando a campanha eleitoral deste ano. Vale a pena ler e refletir.

Estamos nos aproximando das eleições municipais de 2020, mesmo que estejamos em meio a pandemia as eleições ocorrerão este ano. A pandemia secundarizou, até o momento, o debate eleitoral, e não é para menos, o mundo todo está sendo afetado. No Brasil, nosso cenário se torna mais dramático devido a irresponsabilidade do presidente, que potencializa os efeitos da pandemia, combinado com o oportunismo dos prefeitos e governadores, criando um ambiente de morte para a população mais pobre, não é à toa que estamos chegando a 60 mil mortes.
Um dos principais debates destas eleições será a saúde pública. A pandemia demonstrou que as políticas privatistas que terceirizaram, sucatearam os equipamentos de saúde público e desvalorizaram profissionais da saúde, para fortalecimento do setor privado, foram os principais causadores do caos nos hospitais. É necessário que o povo faça um balaço das ações que cada prefeito tomou, antes e durante a pandemia.
Pois, a pandemia evidenciou os interesses que influenciam e dominam as gestões municipais, poucas ações foram realizadas para defender os trabalhadores mais vulneráveis, trabalhadores informais, artistas, desempregados e camponeses. A manutenção ou reabertura de serviços não essenciais é a prova disso, os prefeitos, mesmo sabendo dos riscos à saúde, optaram por manter as atividades tendo clareza que os empregos não se manteriam e a crise econômica só aumentaria, isso é uma forma de lavar as mãos e fazer o jogo de empresários, melhor dizendo, fazer o jogo de quem financia campanha eleitoral.
Portanto o poder local, a gestão municipal, não é neutra, suas ações estão sob forte influência dos setores que detêm o poder econômico (industriais, banqueiros, grandes comerciantes, latifundiário e o setor imobiliário). A sociedade não é homogênea, ela se apresenta dividida em classes sociais que possuem interesses antagônicos e contraditórios. Uma das consequências é a desigualdade expressa nas periferias, espaços de segregação social sem acesso a equipamentos de saúde, educação, transporte, cultura e lazer. Essa desigualdade é reproduzia cotidianamente, um círculo vicioso de exclusão social que se aprofunda com as políticas neoliberais em todo país.
As eleições é momento de debater a realidade concreta. O povo não pode continuar sendo excluído do poder, a maioria das gestões municipais são tecnocratas, desconsideram que o povo tem muito a contribuir com as soluções de problemas da cidade, acreditam que apenas uma equipe de técnicos pode desenvolver soluções. A maioria dos conselhos municipais são biônicos, formados por pseudorrepresentantes dos trabalhadores e movimentos populares, onde a maioria é garantida pela própria gestão e que não têm poderes deliberativos, são apenas para cumprir formalidade. É possível acreditar na experiência que as mulheres e o movimento negro vêm desenvolvimento e aglutinando força nas escolas, universidades e na periferia, são movimentos que podem determinar o cenário político e assumir o protagonismo com candidaturas autenticas e com maior peso de reivindicação de participação na elaboração de políticas públicas.
Um outro ponto importante para as eleições, é a questão de como ativar a economia local e gerar renda. A crise econômica continuará afetando a geração de emprego, levará um bom tempo para chegarmos a níveis anterior a pandemia. Por isso, será necessária uma forte política de geração de renda, o governo local não poderá esperar que a iniciativa privada ou que as pessoas individualmente se virem. É preciso que disponha de recursos públicos para articular cooperativas de trabalhadores, intensifique o investimento em infraestrutura para gerar emprego e ações articuladas de cultura, turismo, esporte e lazer envolvendo trabalhadores informais, artistas locais, grupos esportivos e culturais. São algumas ações que podem impactar na economia local e gerar emprego e renda, por isso, a importância das próximas eleições municipais.
Rigler Aragão – professor da Unifesspa


sexta-feira, 26 de junho de 2020

PSOL emite nota de solidariedade aos militantes do MST Pará


A região sul e sudeste do Pará é fortemente marcada por conflitos agrários fruto das políticas de ocupação da Amazônia que gerou concentração de terras nas mãos de latifundiários (banqueiros, empreiteiros, industriais, fazendeiros). A conivência e o conchavo de políticos, agentes públicos e latifundiários constituiu o sistema fraudulento de grilagem de grandes áreas de terras públicas que levou a expulsão de comunidades tradicionais da floresta.
Para proteção das terras fraudadas se constituiu a pistolagem no campo. O estado de forma conivente deixou livre para que se desenvolvessem milícias armadas que agiam sob o comando das velhas oligarquias locais e dos novos latifundiários. A violência não se constituiu ao acaso; ela faz parte das políticas exploração da região amazônica.
A luta pelo direito à terra, organizada pelo Movimento de Trabalhadores Rurais sem Terra, é uma forma legítima de exigir correção das injustiças que a concentração e a grilagem de terras criaram na Amazônia. Não aceitaremos a criminalização do movimento e de seus militantes, Manoel de Souza da Direção Estadual do MST, Eliana Tavares e Marcos Ferreira, acampados nos acampamentos Helenira Rezende e Hugo Chávez, que foram presos com base em frágeis acusações de envolvimento no homicídio de um acampado em 2018, na reocupação da Fazenda Cedro, ligada ao grupo Santa Bárbara do banqueiro Daniel Dantas. Segundo os advogados da Comissão Pastoral da Terra - Marabá (CPT), não há provas apresentadas que sejam suficientes para manter a prisão.
Expressamos nosso apoio e solidariedade aos companheirxs! Liberdade já!
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE
DIRETÓRIO MUNICIPAL DE MARABÁ

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Poesia, cultura e política são tema de live hoje



Às 19h30 de hoje (25) acontece a live “Poesia, Cultura e Política”, para quem deseja se manter informado e, ao mesmo tempo, apreciar um belo papo cultural. A programação será regida pelos professores Rigler Aragão e Airton Souza, este último poeta e escritor.
Para acompanhar a live basta acessar Facebook e Instagram do professor Rigler e também pelo Instagram do professor Airton.
A ideia dos autores desse projeto é tentar traçar uma conversa sobre esses temas, que são considerados essenciais na nossa formação humana. (Chagas Filho)

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Tião Miranda, mais do mesmo!



(*) Rigler Aragão

O povo de Marabá fez a experiência com diferentes pessoas à frente do poder local, experimentou, uma após outra, a mesma forma de planejamento e gestão. Com a eleição mudava o prefeito, mas o grupo político e a meia dúzia de famílias, que tiram proveito, se perpetuam no poder até hoje. A atual gestão, de Tião Miranda, é tipicamente conservadora, ultrapassada, autoritária e elitista, assim como foram as anteriores.
Tião Miranda quando assumiu a prefeitura se colocou acima de tudo e de todos. Não recebe setores organizados da sociedade, exceto os empresários, ou quando lhe convém fazer propaganda da gestão. Por várias vezes, representantes dos servidores municipais, das diferentes áreas, já reivindicaram abertura de diálogo com o prefeito que negou qualquer abertura direta de negociação. No máximo, coloca seus assessores ou vereadores aliados, que se colocam como garotos de recados, para receber demandas da comunidade para que ele decida o que é prioridade de acordo com seu interesse político. Isso é consequência de uma visão ultrapassada e centralizadora de administrar o que é público.
Durante a campanha o discurso foi de cuidar das contas do município, equilibrar receita e despesa, se aproveitando da gestão desastrosa do seu amigo João Salame. No entanto, uma gestão não pode ser construída simplesmente pela meta de equilíbrio financeiro, mesmo sendo importante, é insuficiente para oferecer ao povo uma proposta de desenvolvimento. Nestes quase quatro anos tivemos uma gestão que foi pautada pelo imediatismo e sem planejamento, o município não teve durante esse período nenhuma mudança estrutural na saúde, educação, saneamento básico, agricultura familiar e na mobilidade urbana. Portanto, problemas profundos, que se arrastam a vários anos, continuarão sem solução por parte da atual gestão.    
Marabá continua sendo uma cidade administrada para poucos. Há uma contínua exclusão social do povo. Começando pela falta de participação popular, o povo é visto, por Tião, como desprovido de conhecimento para opinar e construir soluções. As pessoas estão segregadas nas periferias, não conseguem acessar equipamentos públicos de transporte, cultura, lazer, segurança, educação etc. Não esquecendo que para pessoas com deficiência e idosos a cidade é extremamente inacessível por vários problemas, um deles é simplesmente não usufruir do direito de ir e vir.
Em meio a pandemia a prefeitura age sem transparência. A estratégia de combate a Covid 19 mudou de acordo com a pressão dos empresários e o interesse da gestão em não investir o dinheiro público em ações concretas para efetivar o isolamento social que é recomendado como a melhor forma de controlar o contágio. No início não havia testes e nem se sabia quem estava sendo testado, qual o critério? a subnotificação é uma forma de esconder o real cenário da crise sanitária em Marabá. A decisão de tirar Marabá do lockdown e reabrir o comercio tem duas justificativas, bem clara; primeiro, não se responsabilizar por ações emergenciais com recursos públicos para garantir a sobrevivência de pessoas sem renda; segundo, manter os interesses financeiros dos empresários, jogando os trabalhadores a própria sorte. Por isso, Tião é o prefeito das elites locais.
É necessário mudar o perfil da gestão municipal. Os impostos arrecadados e todos os recursos que estão à disposição da gestão devem ter o fim de gerar desenvolvimento a partir de um planejamento e gestão democráticos, as pessoas devem ser a prioridade, o povo tem muito a contribuir com a elaboração de soluções dos problemas que enfrentam todos os dias. Se não houver melhoria da qualidade de vida e redução das desigualdades a gestão pode-se considerar derrotada por falhar com seus principais objetivos, mesmo que tenha “equilibrado receita e despesas”.

(*) O autor é professor da Unifesspa


As prisões no Pará e os impuníveis Dantas e Saldanha



Foto: Viviane Brigida/Arquivo MST

No dia 9 de junho, a DECA efetuou a prisão de três militantes do MST no sudeste do Pará. Manoel Souza, Eliana Tavares e Marcos Ferreira são acusados de um assassinato ocorrido na noite do dia 16 de setembro de 2018, na reocupação da Fazenda Cedro em Marabá.
Aos olhos nus de quem leu as matérias que saíram nos meios de comunicação sobre o ocorrido, é possível acreditar num crime banal ou motivado por alguma disputa entre os acampados. Ou pior, que a organização tem um perfil de militantes criminosos.
Entretanto, o que se esconde atrás da simples tentativa de criminalização do MST envolve muito mais do que o noticiado. Mais personagens devem constar nesse enredo, cuja história se arrasta por mais de dez anos: o banqueiro Daniel Dantas e o grupo agropecuário Santa Barbará ligado a ele, que se diz proprietário da Fazenda Cedro.
Além disso, deve-se também convocar e povoar ainda mais esse cenário da disputa de terras paraense, o empresário Rafael Saldanha, que reivindica a posse da Fazenda Santa Tereza, em Marabá, ocupada pelo movimento em 2014.
Com esses novos personagens, vários elementos saltam aos olhos e o suposto crime dos membros do MST contra um acampado pode ganhar outras dimensões.
Embora pareçam distantes, a vida dos três presos e dos dois empresários estão atreladas às disputas territoriais na Amazônia, que nunca cessam, apenas se reconfiguram conforme a conjuntura, utilizando-se sempre dos velhos hábitos e métodos.
O trio da discórdia
“Grande”. Assim como era conhecido Alfredo Filho Rodrigues Trindade, assassinado durante a ação de reorganização do acampamento Helenira Rezende, em 16 de setembro de 2018, onde era acampado.
O crime, que passou a ser investigado pela DECA a pedido dos próprios acusados e acampados, não teria, conforme menciona a Comissão Pastoral da Terra (CPT- Marabá) que acompanha o caso, provas cabais ou cabíveis para levar a prisão do trio.
Coincidência ou não, os três presos pela polícia civil paraense são personagens que estiveram envolvidos nos últimos anos nas principais ocupações de terras no sudeste paraense.
Manoel, Eliana e Marcos estavam na organização das famílias que reocuparam a fazenda Cedro, (acampamento Helenira Rezende) do grupo Santa Barbará em 2018.
Dos três, o mais visado é Manoel. Seu nome circula nas agências de pistolagem da região a pedido dos fazendeiros que querem seu assassinato.
Antes de ajudar na reorganização do acampamento Helenira Rezende, em 2014 Manoel e mais 200 famílias organizaram o acampamento Hugo Chavez em Marabá, na fazenda Santa Tereza.
Depois de 4 anos acampado com os cinco filhos e a esposa, foram surpreendidos em 2018 por uma milícia armada e paga por Rafael Saldanha que queimou seu barraco e incendiou os pertences da família, executando um despejo ilegal.
As áreas ocupadas
Dantas, Saldanha e o MST travam uma batalha histórica na região. “Por isso querem nos tirar da disputa por essas terras que são públicas e que deveriam ser destinadas para a reforma agrária”, comenta Ayala Ferreira, do setor de direitos humanos do MST.
A fazenda Santa Tereza é uma transição histórica, servindo de propriedade aos diferentes compadres latifundiários do Pará. Seus primeiros grileiros são os temidos Mutran, antes donos das terras que margeiam a pista de Marabá a Eldorado de Carajás, mais de 150 km pela PA 155.
Após devastar o maior polígono de castanhas da história do Pará, a família teve sua hegemonia quebrada por diversos fatores, entre eles as ocupações do MST em suas terras, como as fazendas Peruana e Cabaceiras, em Eldorado dos Carajás e Marabá, respectivamente.
Do mais, conforme a oligarquia dos Mutran foi perdendo força, as terras foram repassadas ao grupo Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, e também para Rafael Saldanha, como no caso da Fazenda Santa Tereza.
Já a área em disputa na Fazenda Cedro teve sua primeira ocupação pelo MST em 2009. A CPT de Marabá alega que parte do complexo da fazenda pertence à União e não ao grupo Santa Bárbara, pois o documento que atribuía uma área da fazenda ao grupo de Dantas era na verdade o que se chama no Pará de “título voador”, quando o documento de um imóvel é usado indevidamente para comprovar a propriedade de outro.
Caso que foi confirmado pelos técnicos da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) em 2018 quando foram a campo para fazer o georreferenciamento da fazenda.
Prenda-me se for capaz!
A agilidade da polícia do Pará para prender Manoel, Eliana e Marcos mesmo sem provas efetivas, conforme denúncia a CPT, faltou à justiça brasileira pra prender Dantas e Saldanha.
Em 2017, Daniel Dantas estreou no Bloomberg Billionaires Index com uma fortuna pessoal calculada em US$ 1,8 bilhão. A agência americana diz que o banco Opportunity tem aproximadamente 500.000 hectares de terras no Pará, com mais de 20 fazendas adquiridas na região a partir de 2005.
Em 2004, seu grupo foi alvo da Operação Satiagraha, contra crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Dantas foi preso duas vezes, mas terminou absolvido da acusação de corrupção. Portanto, não se sabe até hoje a origem da aquisição de terras massivas irregulares no Pará.
Já Rafael Saldanha, que atentou contra a vida de Manoel no despejo irregular em 2018 com a atuação dos pistoleiros, foi réu na ação penal pela morte de Onalício Araújo Barros (Fusquinha) e Valentim Silva Serra (Doutor), assassinados em 26 de março de 1998 pela articulação do grupo de fazendeiros ao qual Saldanha faz parte.
A juíza de Parauapebas, Maria Vitória Torres do Carmo, decretou, após as primeiras investigações do assassinato, a prisão provisória dos fazendeiros Rafael Saldanha do Camargo e Geraldo Teotônio Jota, o “Capota”, acusados de cúmplices nos assassinatos dos dois líderes do MST. Porém, o Estado do Pará nunca cumpriu a determinação.
Diante de tantos fatos que comprovam que a prisão dos três integrantes do MST pode estar ligada à disputa pela reforma agrária na região e não ao assassinato, cabe a juíza Renata Milhomem, atender ao pedido de revogação da prisão solicitada pelos advogados da CPT.

Por Márcio Zonta
Da Página do MST

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Advogado de Bolsonaro tinha ligações com seita acusada emascular meninos de Altamira



O advogado Frederick Wassef, que escondia em sua casa o então foragido Fabrício Queiroz (preso nesta quinta-feira, 18), teve ligações com a seita que, entre os anos de 1992 e 1993, foi acusada de emascular crianças em Altamira, aqui no Pará.
Fred, como é conhecido, é o advogado do presidente da República, Jair Bolsonaro, no rumoroso caso da facada.
O envolvimento de Frederick Wassef com a quadrilha que matava crianças e cortava seus órgãos genitais no início dos anos 90 foi revelado em uma transmissão no canal da Revista Fórum, no Youtube, pelo jornalista Renato Rovai.
Frederick Wassef prestou depoimento à Polícia Civil no dia 14 de outubro de 1992. Na ocasião ele disse que se aproximou de uma seita após ler livro chamado “Deus, a grande farsa”, escrito por Valentina de Andrade, que seria a líder dessa seita satânica. Mas o caso investigado na época dizia respeito à morte de outras crianças na cidade de Guaratuba, no Paraná.  
Ainda no depoimento, Frederick confessou ter curiosidade de entrar na seita e, após a leitura do livro, passou a trocar correspondências com Valentina ao longo de três anos, mas ele negou ter feito parte do grupo que aterrorizou as famílias de Altamira. Ele não chegou a ser indiciado.
Ganhou destaque
Mesmo com essa sombra no passado, Frederick Wassef ganhou destaque na área do Direito e no atual governo ganhou muita visibilidade ao advogar para Flávio Bolsonaro, filho do presidente, e também para o próprio Bolsonaro pai. Mais que isso, Frederick integrava a agenda oficial do presidente, inclusive esteve presente na posse do novo ministro das Comunicações.
Em setembro de 2019, ao ser perguntado sobre o paradeiro de Queiroz, Frederick Wassef respondeu, de forma cínica, que Queiroz não estava sumido, mas que não sabia onde ele estava, pois não era seu advogado. Àquela altura, Queiroz já estava há cerca três meses escondido na casa do advogado, em Atibaia (SP), pois descobriu-se agora que Queiroz passou um ano escondido lá.
Emasculados
Sobre o caso dos meninos emasculados em Altamira, trata-se de uma série de assassinatos tendo como vítimas meninos com idade entre 8 e 14 anos. Esses meninos foram sequestrados, mutilados e mortos entre os anos de 1989 e 1993. De acordo com a justiça do Pará, os crimes foram cometidos durante rituais de satanismo e magia negra promovidos pela seita “Lineamento Universal Superior”.
Mas há também a possibilidade de que as crianças eram vítimas de uma quadrilha que vendia órgãos. Ao todo, sete pessoas foram presas, entre elas Valentina de Andrade e dois médicos.
O saldo de toda essa monstruosidade foram seis meninos assassinados, cinco estão desaparecidos até hoje e três conseguiram escapar com vida, mas foram emasculados pelos criminosos.
Passados quase 30 anos, se descobre que o advogado do presidente da República manteve uma estreita relação durante três anos com a mulher apontada como líder dessa ação monstruosa.
(Chagas Filho) 

sábado, 13 de junho de 2020

Sobre o racismo, ainda é preciso dizer o óbvio


(*) Chagas Filho

Eu vou usar esse espaço para dizer apenas o óbvio, algo estranho, afinal de contas se está óbvio, nem deveria ser dito. Mas os tempos são estranhos e requerem que se diga o que todos deveriam saber. É preciso redizer que a Terra não é plana e que o Brasil é um país racista, sim! E o racismo aqui é pior do que nos Estados Unidos. Por quê?
Porque lá é escancarado. Isso é uma desgraça, mas aqui é ainda pior, porque o racismo está envolto em um manto de cinismo. Aqui ninguém se importa, aqui as vidas negras não importam, nunca importaram e todos sabem disso, até mesmo aqueles que insistem em negar.
O racista que, nesse momento, lê o que eu escrevo sabe que é verdade e sabe que eu sei que ele sabe, mas o cinismo mantém esse jogo de enganação, de negação da realidade, de desconexão com os fatos.
Veja: o assassinato de George Floyd, cidadão preto, por um policial branco, gerou uma convulsão social que rompeu as fronteiras dos EUA, mas aqui no Brasil temos centenas de “Georges Floyds”... e ninguém se importa!
Veja:
Agatha, “menina maravilha”, morta pela polícia no Complexo do Alemão


João Pedro, 14 anos, assassinado pela polícia no Complexo do Salgueiro


Evaldo Santos, morto pelo Exército no Rio de Janeiro, com 80 tiros, OI-TEN-TA TIROS! 80!


Claudia Silva, arrastada até a morte, por uma viatura da PM na Zona Norte do Rio


Amarildo Souza, pedreiro, morto e ocultado pela Polícia Militar


Miguel, de 5 anos, caiu do 9º andar do edifício da patroa de sua mãe, que fazia as unhas e o jogou à própria sorte dentro de um elevador


Esses são apenas alguns dos exemplos mais famosos. Há outros, há vários. E o que essas pessoas têm em comum? A cor da pele e a classe social. Mas ninguém se importa. Grande parte das pessoas prefere se indignar com uma vidraça de banco ou de boutique quebrada.
Há quem vá nas redes sociais minimizar as mortes negras; há quem faça piada. Não nos importamos, porque as pessoas pretas são “matáveis”, descartáveis...
E ninguém é racista, ninguém se admite racista. Quando são pegos, dizem que é brincadeira, que têm amigos pretos, que são pretos, nunca é sério, nunca é de verdade.

Para quem ainda não viu o óbvio diante dos seus olhos, saiba: o racismo é estrutural no Brasil, porque foi historicamente estruturado (eu sei que é repetitivo, mas é necessário repetir). De acordo com Maria Sylvia, presidente do portal Geledés, e Helena Teodoro, voluntária do Instituto de Filosofia e Ciência Sociais (IFCS), quando a escravidão foi abolida no nosso País, o Estado se precaveu por meio de medidas legislativas que possibilitaram a marginalização dos pretos no Brasil.
Para quem não sabe, foram criadas leis que proibiam os negros livres de comprarem terras, por exemplo.
As pesquisadoras chamam atenção ainda para o fato de que, quando os negros eram escravos, eram trabalhadores, ou quem você acha que fazia os serviços pesados? Mas após libertos foram rotulados de vagabundos, malandros, indolentes. Daí houve um incentivo governamental (um ano depois da Lei Áurea) para a vinda de europeus ao Brasil, que recebiam terras, animais e até algum dinheiro para começar a vida aqui. Já os negros, trazidos como bichos em jaulas dentro de navios, permaneceram sem terra, sem educação e sem trabalho.
Somos até hoje descartáveis, “matáveis”, a “carne mais baratado mercado”.

Para assistir ao vídeo sobre este assunto, abra o link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=GRwHdRSn5b8

(*) Autor é jornalista, pedagogo e mestre em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia.


sexta-feira, 5 de junho de 2020

O valor da vida em tempos de covid-19


A ameaça da expansão da covid-19 no sul e sudeste do Pará não apenas gerou insegurança sobre os diversos projetos políticos e econômicos historicamente situados na região, como nos despertou para os impactos da proliferação do vírus em área caracterizada por intenso deslocamento humano em aldeias, comunidades, cidades, acampamentos e assentamentos.
Sinalizamos nesse escrito algumas possibilidades de antecipação ao entabulamento de interesses econômicos em meio à crescente contaminação em Marabá, a defesa de um amplo diálogo com os diversos sujeitos sociais da região e o posicionamento do poder público ante a pressão da COVID-19, que em termos antropológicos se desenha perigosamente como pânico social etiquetado de ressentimento e polarização política.
O esmero do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus, não pode vendar nossos olhos à necessidade do estabelecimento de frentes de diálogo com movimentos da sociedade civil organizada. A necessária presença do setor empresarial neste Comitê deveria ser compartilhada com representantes dessa ampla sociedade, pois ainda que a composição deste seja de autonomia do poder municipal, existe uma flagrante ausência de voz da diversidade social.
Um exemplo desse imbróglio é a relação entre as medidas do Comitê e o aumento de casos a partir dos acontecimentos escalonados nas últimas semanas: no dia 18 de maio, quando tínhamos em Marabá 326 casos, a Procuradoria-Geral do Estado comunicou que a prefeitura de Marabá solicitara a retirada da lista de cidades que deveriam instaurar o lockdown, o fato ocorreu no mesmo dia em que alguns funcionários e comerciantes, em manifestação, solicitaram ao gestor municipal a “reabertura do comércio”.
Na sequência, dia 25 de maio, quando o Boletim Epidemiológico sinalizou para 664 casos, as autoridades municipais decidiram flexibilizar as atividades comerciais, olvidando o estarrecedor aumento de 100% no número de contaminados em apenas 07 dias! Hoje, 5 de junho de 2020, amanhecemos assombrados com a contaminação de 1.374 cidadãos, o que significa que em 18 dias, desde a não adesão de Marabá ao lockdown, sem falar na estratosférica subnotificação, tivemos um acréscimo de 1.048 almas contaminadas e 104 óbitos!
Tendo como referência o número de casos e as medidas de isolamento, os gráficos abaixo expressam que em Marabá o aumento de contaminados é diretamente proporcional ao enfraquecimento das políticas de isolamento social. A partir da mesma semana em que Marabá se retirou do lockdown o número de casos confirmados dobrou, considerando os dados da SESPA.
 

Ao contrário de que se pensa, longe de propagar o pânico, pensamos que é nosso dever sinalizar que medidas restritivas que se alternam entre o lockdown e o respeito à capacidade de manutenção econômica pode ser a oportunidade para nos desviarmos desse prognóstico. Para esse fim, sublinhamos que medidas autocráticas ou tomadas isoladamente apenas fragilizam a legitimidade política e dificultam o entendimento sobre a alarmante necessidade do isolamento social, em suas distintas variações.
É fundamental esclarecer que embora muitos não tenham outra escolha que não se expor à COVID-19, há ainda uma grande parcela que está mais interessada no que vai deixar de lucrar do que necessariamente no valor da vida, é importante então definir que não se trata da “vida” como algo genérico, a vida na impessoalidade, e sim a reivindicação de uma ética que seja capaz de colocar a pergunta “quanto vale a Minha vida?” em simetria com o seu complemento: “quanto vale a vida do Outro?”. 
Almejamos que as decisões de nossos representantes políticos estejam pautadas, não na mórbida expectativa contábil do colapso no sistema de saúde, nem tão pouco na ênfase desnecessária entre o tamanho da fonte da palavra “altas” em detrimento do tamanho da fonte para “óbitos” no circulado Boletim Epidemiológico em Marabá e sim na assertiva ética de que cada leito vazio significa o infinito valor de nossas vidas.

Jerônimo da Silva e Silva - Doutor em Antropologia. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. E-mail:  jeronimosilva@unifesspa.edu.br
Ana Cristina Viana Campos - Doutora em Saúde Coletiva. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. E-mail: anacampos@unifesspa.edu.br