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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

A normalização da barbárie e da corrupção


 

O Brasil está imerso em um lamaçal de tragédias que nunca imaginaríamos estar. Mas o pior nem é a barbárie em si, mas os desdobramentos que a tornam invisível.

Quando nosso presidente responde que não é coveiro ao ser questionado sobre o amontoado de corpos gerados pelo coronavírus;

Quando nosso presidente manda os repórteres à “puta que pariu” e diz que vai enfiar latas de leite condensado no “rabo da Imprensa”;

Ou ainda quando dispara “Pergunte pra sua mãe”, ao ser indagado sobre casos de corrupção envolvendo sua família;

Quando ele faz tudo isso e as pessoas riem, aplaudem, gritam “Mito”, “Mito”, da mesma forma que os nazistas ovacionavam Hitler, chamando-o de “führer”;

Quando todos esses acontecimentos se expõem diante de nossos olhos, é sinal de que grande parte de nossa sociedade já não se importa mais com a corrupção, já não cultiva mais o respeito e a civilidade que deveriam nortear as relações sociais dentro de uma democracia, por mais pueril que ela ainda seja.

Todas as vezes que o presidente profere desrespeitos à honra alheia, aos mortos, ao povo pobre, eu não fixo minha atenção para o ato em si, mas procuro canalizar meu olhar para as reações do público e é isso que me preocupa.

No afã histérico de manter suas convicções, os fanáticos que ainda defendem o presidente a ponto de colocar o próprio esfíncter na reta, são capazes de relativizar absolutamente tudo.

Professos cristãos são capazes de se tornar moucos para o palavreado eivado de turpilóquios do presidente, fruto de uma criação falha e uma vida desprovida de qualquer respeito ao outro.

Os “contra a corrupção” conseguem fazer malabarismos quase telecinéticos para justificar o saque aos cofres públicos, que acontecem de forma simplesmente escancarada.

Andei por um bom tempo arranjando intrigas nas redes sociais contra pessoas que espalham fakes, tentando mostrar que estavam sendo levados a erro. Inocência minha. Só depois de algum tempo percebi que os divulgadores de fakes sabem muito bem o que estão fazendo. Caiu a ficha!

O quadro é estarrecedor porque me leva a crer que o presidente não é um super vilão que controla a mente das pessoas, ele é apenas a representação de muitos de nossos irmãos brasileiros.

De tantas certezas que concretizei nesses últimos meses, foi uma dúvida que acabou me trazendo um certo alento: será que os fanáticos ainda são tantos assim ou eles são muitos apenas nas redes sociais? Espero que sejam mais barulhentos do que numerosos. O tempo dirá... se ainda sobrar alguma coisa do Brasil em 2022.

 

Chagas Filho, jornalista e pedagogo.

 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

A solidão sabotada

 











Quando alguém me abraça,

não é o abraço do outro que eu sinto.

É o meu corpo sendo abraçado.

 

Quando alguém beija minha boca,

não é a boca do outro que eu sinto.

É a minha boca sendo beijada.

 

Mas quando meu corpo entra no teu,

não é o meu corpo que eu sinto.

É o teu corpo no meu.

 

(Chagas Filho)