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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CPT denuncia: 38 estão no "corredor" da morte na região


Esta semana, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) tornou público um diagnóstico sobre a situação de lideranças e trabalhadores rurais ameaçados de morte na região sul e sudeste do Pará. O levantamento foi realizado no período de janeiro a junho deste ano e constatou a existência de 38 pessoas ameaçadas nas duas regiões. Já foram protocaladas cópias do diagnóstico no Ministério Público Federal, Delegacia de Conflitos Agrários, Ibama, Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho entre outras instituições.
No documento, a CPT além de refletir sobre alguns elementos da conjuntura atual da reforma agrária, fez, em cada caso de ameaça, uma breve descrição do conflito e das medidas que estão sendo tomadas ou não pelas autoridades competentes. Além disso, o relatório aponta a situação em que se encontra cada pessoa ameaçada.
O desmonte da reforma agrária, impunidade, ineficiência na defesa do meio ambiente são umas das questões apresentadas no documento, como sendo as causas estruturais das ameaças. No final a CPT elenca uma série de recomendações às principais instituições públicas envolvidas direta e indiretamente, na proteção dos trabalhadores, do meio ambiente e da garantia do estado de direito.
Entre as lideranças que aparecem no diagnóstico estão trabalhadores rurais, lideranças comunitárias, assentados, extrativistas e acampados, ligados ao MST, Fetraf e Fetagri, como é o caso de Laísa Sampaio e Zé Rondon (Nova Ipixuna), Joacir Fran (Conceição do Araguaia), José Rodrigues de Souza (São Félix do Xingu) e Domingos Alves da Silva (Breu Branco).
O caso de Laísa é emblemático, porque ela é irmã de Maria do Espírito Santo, que foi assassinada junto com o marido, José Claudio Ribeiro, em Nova Ipixuna, por causa de conflitos agrários. Eles defendiam uma área de preservação agroextrativista, que era saqueada por madeireiros e grileiros.

 A dura realidade do sul e sudeste do Pará
“Nessa parte da Amazônia, diversas ameaças de morte feitas por grandes proprietários de terras, madeireiros e carvoeiros foram cumpridas”, denuncia a CPT, em nota à Imprensa.
O documento cita algumas das mortes anunciadas, como as de José Dutra da Costa, o Dezinho, Pedro Laurindo, José Pinheiro Lima, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. Todos já haviam informado às autoridades as ameaças que sofriam.
Só no Estado do Pará, entre 1996 e 2010, segundo os dados da CPT, 799 trabalhadores rurais foram presos, 809 foram ameaçados de morte e 231 assassinados. Nesse mesmo período um total de 31.519 famílias foram despejadas ou expulsas de 459 áreas que eram reivindicadas para assentamentos da reforma agrária.
Em 2011, 39 trabalhadores rurais foram presos nesse estado, 133 foram agredidos, 78 foram ameaçados de morte e 06 sofreram tentativas de assassinato. Nesse mesmo ano, 12 trabalhadores rurais foram assassinados, sendo que 10 destes moravam e desenvolviam as suas atividades agrícolas e sociais no sul e sudeste paraense.
Hoje, nesta região do Estado, existem cerca de 130 fazendas ocupadas por, aproximadamente, 25 mil famílias de trabalhadores rurais sem terras, abrangendo uma área superior a um milhão de hectares. Estas famílias esperam, desde meados dos anos de 1990, para serem assentadas em lotes da reforma agrária.

 Explosão demográfica contribui com os números
Nos últimos anos, milhares de migrantes continuam chegando à região em busca de trabalho e de melhores condições de vida, atraídos pelas propagandas governamentais e do setor de mineração. Na medida em que não conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, estes são “empurrados” para novas ocupações urbanas ou rurais, submetidos a situações de grande exclusão e violência.
Assim, na medida em que os conflitos pela terra persistirem, a tendência é a continuidade da violência contra os trabalhadores rurais. Onde os conflitos não são resolvidos pelos poderes públicos e a impunidade permanece, os trabalhadores rurais e lideranças de áreas de ocupações e de acampamentos continuam vivendo em situação de vulnerabilidade e correndo sérios riscos.
As informações apresentadas no documento são resultado do levantamento que as equipes da CPT do sul e sudeste do Pará conseguiram reunir a partir de seu trabalho junto aos trabalhadores rurais e suas lideranças ameaçadas de morte ou em situação de risco, de diversos acampamentos de famílias sem terra e de Projetos de Assentamento da Reforma Agrária.