Mesmo
que o governo federal cumpra sua parte – o que até agora ainda não aconteceu –
a Aços Laminados do Pará (Alpa) só deve começar sua produção em Marabá entre o
final de 2017 e o início de 2018.
Isso
ocorre porque a siderúrgica só começa a ser implantada quando o governo federal
iniciar a construção da Hidrovia Tocantins Araguaia, com o derrocamento do
canal do Lourenção, o que só deve ocorrer em meados do ano que vem (2013) ou
até mesmo em 2014. E todo o processo de implantação da Alpa vai durar quatro
anos, até que os primeiros aços laminados sejam produzidos.
Essa
informação foi repassada a jornalistas de Marabá e de Belém, durante reunião na
terça-feira (29), na sede da Mineradora Vale, no Rio de Janeiro (RJ).
Participaram
do encontro com os jornalistas, o diretor global de Siderurgia, Aristides
Coberllini; o diretor-presidente da Alpa, José Carlos Gomes Soares; o gerente
geral de Projetos Siderúrgicos, Dimas Bahiense; e a coordenador executiva da
Alpa, Daniella Barros Queiroz.
A
conversa foi franca. Os executivos da Vale não fixaram um prazo para que a
usina entre em operação, mas voltaram a afirmar que a Alpa será implantada,
sim. Deixaram claro, porém, que o “Marco Zero”, a partir do qual serão contados
quatro anos para que a siderúrgica comece a produzir, é a construção da
hidrovia.
O
tão propalado canal de navegação pelo Rio Tocantins, entre Marabá e Vila do
Conde, é fundamental para a viabilidade da Alpa porque servirá não apenas para
escoar a produção da usina, mas em primeiro lugar é por lá que chegará o carvão
mineral que vai alimentar a usina (vindo provavelmente da Austrália ou de
Moçambique, onde a Vale mantém minas desse tipo de carvão).
Os
executivos da Vale exibiram um mocrocronograma geral do projeto para provar que
tudo que estava ao alcance da Vale já foi feito. Resta agora a contrapartida do
poder público.
Prova
disso é que a Vale já investiu até aqui US$ 296 milhões na Alpa (divididos entre
estudo de viabilidade, engenharia básica, ações sociais e ambientais, custeio
da Vale e principalmente em terraplenagem).
“Para
a Vale, esse projeto (Alpa) é irreversível”, sentenciou Aristides Corbellini,
acrescentando que a Vale só não iniciou ainda a implantação da siderúrgica
porque é difícil convencer o Conselho da Administração da empresa a investir
US$ 5 bilhões num lugar onde ainda não existe via para escoamento de produção e
tampouco para passagem do carvão. Ou seja: tudo depende da hidrovia.
Quando a hidrovia começa a
ser feita?
Não
existe uma data prevista para início do derrocamento do Pedral do Lourenção e
alguns trâmites legais precisam ser cumpridos.
Primeiro
é preciso ser concluído o projeto executivo, que está sendo feito pela Vale, ao
custo de R$ 19 milhões. A previsão é de que este projeto fique pronto até o
final deste ano.
Depois
disso, começa outro estágio, que é colocar esse recurso dentro do Orçamento da
União. Feito isso, será aberto o processo licitatório. E só então começa a
obra, que está estimada em torno de R$ 360 milhões.
É
possível que todo esse processo dure menos de um ano, desde que nenhuma empresa
que porventura perder a concorrência pública (licitação) não recorra à Justiça,
pedindo novo processo licitatório.
E o porto como fica?
Quase
tão importante quanto a hidrovia é o porto público que precisa ser construído
pelo governo do Estado. Mas, quanto a isso, os representantes da Vale se
mostraram menos preocupados. “Não temos nenhuma reclamação contra o governo do
Estado”, comenta José Carlos Soares.
O
porto deve sair a um custo de R$ 70 milhões. Só o projeto executivo deve custar
R$ 6 milhões.
Lote 11 não preocupa a Vale
A
situação do Lote 11 parece não preocupar os representantes da Vale. Conforme já
divulgado anteriormente, o Lote 11 é uma das propriedades particulares
localizadas na área em que está sendo construída a Alpa e que foram
desapropriadas, mas o dono não aceitou os valores oferecidos pelo governo do
Estado.
Sobre
o assunto, Corbellini disse não se preocupar com essa situação e considerou que
isso faz parte do processo. Ele disse ter plena confiança de que – mais dia
menos dia – a Procuradoria Geral do Estado vai conseguir resolver essa questão
junto com o Poder Judiciário e o proprietário da área.
Diferente
dos demais lotes que foram desapropriados para a construção da Alpa, o Lote 11
detém uma jazida de água mineral. Por isso o dono da área, empresário Eduardo
Barbosa, não concordou com o valor oferecido, que foi de R$ 3 milhões. Ele
entende que, pela concessão da jazida, dada a ele pelo Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), o terreno só pode ser desapropriado por R$ 60 milhões.
Barbosa
conseguiu decisão favorável na Justiça, que impediu a imissão de posse para a
Alpa. O Estado recorreu.
Poder público atrasou início
da implantação
Em
nenhum momento, durante a reunião com os jornalistas, os executivos da Vale
criticaram os motivos que levaram o governo federal a atrasar o início da
construção da Hidrovia Tocantins Araguaia. Mas, por outro lado, deixaram claro
que a responsabilidade pelo atraso é do poder público.
Pelo
macrocronograma feito pelo próprio governo federal, a Alpa deveria entrar em
funcionamento já em maio do ano que vem (2013). Mas isso – obviamente – não vai
ocorrer exatamente porque o governo removeu do PAC-2 os recursos destinados à
hidrovia.
Ainda
de acordo com a projeção inicial, o derrocamento do Pedral do Lourenção (um
trajeto de 43 km) era para ter começado em dezembro de 2008.
De
todo modo, na última reunião entre representantes da Vale e o ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, foi entregue
uma minuta, relatando todos os investimentos da Vale em relação à Alpa e
aguardando uma solução para a abertura da hidrovia Tocantins Araguaia.
GERAÇÃO DE EMPREGO
Na
fase de implantação do projeto, que inicia logo depois que começar a ser aberta
a hidrovia, serão gerados 12 mil
empregos diretos no canteiro de obras.
Quando
a siderúrgica entrar em operação serão gerados 3 mil empregos diretos e aproximadamente 12 mil indiretos.
VALE NA SIDERURGIA
Outro
ponto que confirma o interesse da Vale em implantar a Alpa em Marabá é que
atualmente a empresa opera vários projetos siderúrgicos pelo mundo que
totalizam US$ 22 bilhões.
Eles
irão somar 18,5 milhões de toneladas por ano à produção siderúrgica nacional,
que em 2010 foi de 32,8 milhões de toneladas de aço bruto, segundo informações
do Instituto Aço Brasil.
A
estratégia de longo praz da Vale na siderurgia é promover o setor no Brasil,
criando demanda adicional ao minério de ferro, agregando valor e gerando
riqueza e desenvolvimento no País.
Entre
as siderúrgicas que a Vale está envolvida está a Tyssenkrupp CSA Siderúrgica do
Atlântico, no Rio de Janeiro; a CSP (Companhia Siderúrgica do Pecém), no Ceará;
a CSU (Companhia Siderúrgica Ubu), no Espírito Santo; e a Califórnia Steel
Industries (CSI), na Califórnia (EUA).