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terça-feira, 15 de junho de 2021

O País das Maravilhas (Sobre o fim da indignação)

 


Antes, sediar uma Copa do Mundo era um desrespeito com o Brasil. Afinal o País precisa de hospitais.

Agora, sediar uma Copa América em plena pandemia, com mais de mil mortes diárias, é tranquilo.

Antes, se faltasse uma seringa em um hospital no interior do Brasil era culpa do governo federal.

Agora, o governo federal é avisado um mês antes sobre falta de oxigênio em hospitais e a culpa é do governador.

Antes, um ministro comprou uma tapioca com cartão corporativo e foi exonerado.

Agora, o cartão corporativo do presidente está sob sigilo, os gastos mensais chegam a R$ 1 milhão e tudo bem.

Antes, o filho do presidente tinha que limpar bosta de elefante no zoológico até morrer.

Agora, o filho do presidente compra uma mansão de R$ 6 milhões e centenas de imóveis e estamos falando de investimentos.

Antes, a gasolina a R$ 3,00 era inaceitável, motivo de postagens indignadas nas redes sociais.

Agora, a gasolina beirando os R$ 6,00 é motivo de piadas, de brincadeiras... dá pra pagar sim!

Antes, um processo de Impeachment liderado por Eduardo Cunha (preso depois por corrupção), era algo que iria moralizar o País.

Agora, uma CPI que investiga os responsáveis por centenas de milhares de mortes é politicagem porque quem está à frente é Renan Calheiros.

Antes, todos tinham que ir às ruas, vestidos com a camisa da CBF, protestar contra quele governo maldito, até tirá-lo do poder.

Agora, é preciso ficar em casa, caladinho, chorar, que dói menos, e esperar por 2022.

Antes, todos estavam indignados nas redes sociais com “a situação que está aí!”

Agora, falar de política na Internet é chato, cansa, desfaz amizades, pois os grupos de WhatsApp estão aí para diversão, putaria, piadas, futebol...

Afinal de contas, senhoras e senhores, estamos nos País das Maravilhas, onde a indignação é proibida.

Mas...

“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.” (Darcy Ribeiro)