Páginas

domingo, 11 de dezembro de 2011

Eis (conforme prometido)

Eu sei que foi o mais nobre dos sentimentos que moveu grande parte das esquecidas regiões do interior do Estado a querer sua emancipação.
Desde meus tempos de menino, vejo o mapa do Carajás em alguns pontos da cidade, principalmente na Casa da Cultura, onde buscava subsídio para meus trabalhos escolares em tempos pré-Internet.
Sei também que, teoricamente, Estados menores são mais fáceis de administrar. Isso sem contar com os recursos que acabam sendo maiores para determinadas regiões desassistidas, como é o caso da nossa.
Mas (e sempre há um “mas”), quem de fato seria beneficiado com essa divisão?
Vi muitos de meus amigos (quase todos) abraçarem a causa, empunharem uma bandeira, que não ajudaram a criar e não sabem nem quem a fez.
Muita gente em Marabá aceitou o Estado de Carajás, como os cristãos aceitam a Bíblia, pela fé, sem pararem ao menos para debater se este era realmente o caminho a seguir neste momento.
E os debates em torno do assunto mostraram que o eleitor e muitos de nossos representantes políticos ainda são rasos.
De repente aconteceu a coisa mais idiota do mundo: a questão virou uma luta da capital contra o interior, de modo que morar aqui e votar no “Não” era sinônimo de traição e vice-versa.
Enquanto isso, outros debates importantes começaram a ser postos de lado. Não se questionou, por exemplo, algo como: Se Estados pequenos fossem sinônimo de desenvolvimento, um dos piores Estados do País não seria o Alagoas.
Ou se a quantidade de representantes políticos em Brasília fosse sinônimo de melhoria de vida, o Nordeste não seria uma região tão miserável.
Em Belém, uns bradavam “Não e Não”, fugindo a qualquer diálogo. Aqui, outros cegaram e viram apenas essa saída.
Mas os daqui esqueceram-se que nosso modelo político corrupto, centralizador e excludente é tão avassalador que, em caso de criação do Estado do Carajás, as boas pessoas que derramaram suor nessa campanha e botaram a cara a tapa, seriam jogadas ao ostracismo em questão de meses, para dar lugar aos velhos coronéis.
A criação de um novo Estado – não se enganem – geraria uma unidade federativa tal qual a de hoje, governada por uma elite pecuarista e minerária, com raras exceções que ficariam amordaçadas no curso da história, na periferia do poder.
Talvez uns poucos se beneficiariam com a criação de novos cargos políticos – necessários, é verdade, para o andamento da máquina administrativa.
Muitos dizem que ter governos mais perto é bom porque nos permite cobrar de nossos representantes. Eu pergunto, então: Por que não cobramos uma postura mais séria de nossos vereadores (que são nossos vizinhos) em relação à administração municipal, que atropela os direitos do povo sem ser incomodada?
Muitos dizem que ter um Poder Judiciário mais próximo também seria bom. Será mesmo? Num país, onde as cadeias estão cheias de negros e pobres, que diferença isso faria? Talvez os pobres seriam enjaulados mais cedo, enquanto os ricos desonestos continuariam pagando cestas básicas e ficando livres.
Muitos dizem que o desmatamento na nossa região é provocado pela ausência do Estado, que está distante. Então por que é que muitos dos grandes desmatadores são favoráveis à criação de Carajás? Para tornarem-se honestos só depois disso?
Se Marabá virasse capital, continuaríamos excluindo nossos irmãos do interior, como somos excluídos pela elite parasita de Belém, que é também excluída pela elite do Sudeste do Brasil e que, da mesma forma, é excluída pelos países desenvolvidos.
Se criássemos o Carajás, teríamos mais hospitais, como o que já existem no Sul Maravilha? Então por que é que nesses grandes centros do Brasil – inclusive em Belém – os pobres continuam morrendo na fila dos hospitais, mesmo tendo mais estrutura?
Parabenizo e respeito a luta de todos que entraram de cabeça nesta causa acreditando num ideal, mas acho que nós (eleitores e políticos) ainda não estamos preparados para isso.
Para a corrupção existente no nosso País não tem tanto de dinheiro que chegue. E o pior é que temos poucos políticos confiáveis. Os bons, na verdade, são exceções que servem apenas para confirmar a regra.
E sabem por que Carajás não daria certo neste momento? Por que este mundo que nós chamamos de normal está de pernas para o ar. Só que ninguém parece ver isso.
Como diria o poeta: “Meus amigos parecem ter medo de quem fala o que sentiu; de quem pensa diferente; nos querem todos iguais. Assim é bem mais fácil nos controlar e mentir, mentir, mentir e matar, matar, matar o que eu tenho de melhor: minha esperança”.