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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amat - Nas entrelinhas do discurso

Muito proveitoso o seminário realizado pela Federação das Associações dos Municípios do Estado do Pará (Famep). Foi uma oportunidade impar que os prefeitos do sul e sudeste do Pará tiveram de expor suas demandas. Muito bom.
Mas um discurso, em particular, me deixou muito preocupado. Foram as palavras de Luciano Guedes, prefeito de P'Darco e novo presidente da Amat – Associação dos Municípios do Araguaia e Tocantins.
1) Ele foi logo dizendo que o agronegócio é a atividade que mais gera "emprego" e renda na região. Em qual região?
Quanto à renda, eu não tenho o que discutir, porque os fazendeiros estão com os bolsos cheios de dinheiro; vendem seu gado caro e conseguem juros especiais nos financiamentos, além de renegociações de dívidas.
Agora, alguém me passe os números da geração de empregos do agronegócio. Afora, a mão de obra escrava e os salários baixíssimos pagos aos funcionários regularizados, eu não conheço outro tipo de geração de postos de trabalho. É possível que ele esteja falando dos empregos indiretos (só pode).
2) Mas agora vem o pior. Com todas as letras, Luciano Guedes declarou que "o direito de propriedade deve estar acima de qualquer outro direito".
Isso deve incluir, então, o direito de comer, dos trabalhadores sem-terra; o direito de criar seus filhos com dignidade; o direito de ocuparem uma propriedade imprdoutiva e sem documentos; ou mesmo o direito à vida, propriamente; até porque nós sabemos que quem desafia o agronegócio nesta região acaba morrendo.
É o fim.
O que mais me deixa encasquetado é que são pessoas como esta, que lutam pela criação do Estado do Carajás.
A ideia de criar um novo Estado, que respeite as características regionais e sociais sempre me atraiu muito, mas o que eu vejo, claramente, agora é o desejo de uma classe dominante em criar um novo "feudo", controlando o judiciário, o executivo e o legislativo, esmagando as minorias e chupando esta região como uma laranja, até sobrar só a bucha.
É isso.